18 de set. de 2013 | By: Fabrício

Serra Pelada: corrida pelo ouro


O Brasil, desde o período colonial, se destaca pela fartura de minerais em seu subsolo. O país ficou marcado pela grande quantidade de ouro encontrado durante os séculos XVII e XVIII. Após esse período, acreditava-se que o recurso aurífero brasileiro não seria mais encontrado em grandes proporções. Porém, em 1980 surgiu uma nova corrida em busca do ouro em Serra Pelada. 

Serra Pelada, atual município de Curionópolis, é uma região localizada no Estado do Pará. Na década de 1980, essa área foi invadida por milhares de garimpeiros motivados pelo sonho de enriquecer rapidamente através do ouro.

O major do Exército, Sebastião Curió, era o responsável pela organização no garimpo, evitando, na medida do possível, confusões e atritos entre os trabalhadores. Uma das medidas estabelecidas foi a proibição de bebidas alcoólicas no local. 

Rapidamente a área se tornou o maior garimpo a céu aberto do mundo. Aproximadamente 25 mil homens trabalhavam dia e noite e chegavam a tirar uma tonelada de ouro por mês. Conforme dados do Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM), somente no ano de 1983 foram extraídas cerca de 14 toneladas de ouro na área de Serra Pelada. Esse fato fez com que muitos pensassem que as jazidas de ouro seriam capazes de enriquecer os garimpeiros. Porém, esse fato não se concretizou, e o que é pior, muitos morreram durante o trabalho. 


O garimpo é uma forma de exploração de minérios valiosos através de meios mecânicos ou manuais, que pode ser realizada a céu aberto ou em minas escavadas nas rochas. Entretanto, o garimpo é considerado uma forma predatória ao meio ambiente. Durante o garimpo na Serra Pelada, o ouro era extraído da pepita utilizando o mercúrio na sua forma líquida, que tem a propriedade de capturar os grãos de ouro formando uma amálgama, uma espécie de liga.

Existe um aparelho artesanal construído para separar o ouro da lama extraída no garimpo. Apelidado de “cobra fuma”, nele existem placas com mercúrio sobre as quais corre água com barro e que servem para reter o ouro presente na lama. O fluxo de água faz com que o ouro entre em contato com o mercúrio sendo imediatamente aprisionado. O processo é, em geral, muito rudimentar e causa grandes perdas de mercúrio que é transportado pelas águas para os rejeitos onde se infiltra.

A parte do amálgama que não foi perdida na garimpagem é, após alguns dias, processada pelo garimpeiro com o intuito de recuperar o ouro e parte do mercúrio metálico, através de uma separação gravimétrica. Este processo torna-se como a maior fonte de contaminação dos garimpeiros, pois o amálgama separado é queimado, geralmente a céu aberto, liberando grandes quantidades de mercúrio para a atmosfera. Durante o processo, quantidades variáveis de mercúrio são perdidas na forma metálica para rios e solos, e rejeitos contaminados são deixados a céu aberto na maioria dos sítios de garimpo. Alguns garimpeiros também faziam o uso do maçarico para vaporizar o mercúrio deixando somente o ouro na sua forma sólida. Neste processo, os vapores de mercúrio, pela inexistência de equipamentos de proteção, máscaras e capelas, eram inalados diretamente pelos garimpeiros. Este contato direto com o mercúrio desencadeou uma série de problemas de saúde na população da Serra Pelada, levando a morte de muitos garimpeiros ou deixando marcas para a vida toda.

Garimpo de Serra Pelada/PA

As condições de trabalho eram precárias, calor intenso, utilização de escadas danificadas, barrancos altamente perigosos, poeira de monóxido de ferro no ar - que era inalada pelos trabalhadores; barracos improvisados, sem estrutura adequada para moradia. Mas apesar de todos esses aspectos negativos, os garimpeiros trabalhavam na esperança de “bamburrar” - expressão relacionada ao fato de enriquecer.

A produção aurífera em Serra Pelada decresceu e, em 1992, houve interrupção das atividades de extração de ouro na região. A grande cratera aberta para a retirada do ouro transformou-se num enorme lago. A Companhia Vale do Rio Doce recebeu uma indenização de 59 milhões do Governo Federal, pois tinha direitos sobre as jazidas de ouro, que foram invadidas pelos milhares de garimpeiros. 



Em 2002, o Congresso Nacional aprovou um decreto que permitiu aos garimpeiros a execução de suas atividades em uma área próxima à Serra Pelada. Em poucos meses, aproximadamente 10.000 garimpeiros foram atraídos para essa região. Vários problemas ocorrem nessa nova área. A disputa de interesses políticos, líderes sindicais, mineradoras e antigos garimpeiros geram vários conflitos. Alguns com final trágico, como o assassinato de Antônio Lemos, que era o presidente do Sindicato dos Garimpeiros da região. 

Hoje, acredita-se que ainda existam pequenas jazidas de ouro em algumas regiões, mas a exploração já é controlada pela companhia de mineração Vale. Atualmente, a região da Serra Pelada se transformou em uma favela com cerca de 1000 habitantes e surgiu uma imensa cratera com 200 metros de profundidade no local do garimpo. O ouro encontrado em Serra Pelada não gerou riqueza para a maioria dos garimpeiros, pelo contrário, apenas trabalho em péssimas condições e desilusão com a possibilidade de sair da miséria.


SAIBA MAIS:
Assista a reportagem especial sobre Serra Pelada:
http://globotv.globo.com/globonews/arquivo-n/v/programa-relembra-a-busca-pelo-ouro-em-serra-pelada-e-mostra-como-voltara-a-funcionar/2549676/

Assista ao documentário: "Serra Pelada: esperança não é sonho", dirigido por Priscilla Brasil. O filme retrata um pouco da realidade atual da região através de relatos dos personagens que estiveram envolvidos com a exploração da década de 1980, assim como as experiências e disputas do passado.  
http://vimeo.com/19842182

1 comentários:

Anônimo disse...

quais eram as condicoes de trabalho dos garimpeirosem serra pelada.que elementos as imagens fornecem

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