27 de dez. de 2013 | By: Fabrício

A fúria de Vulcano em Pompeia

Ruínas da cidade de Pompeia

Pompeia foi outrora uma cidade do Império Romano situada a 22 km da cidade de Nápoles, na Itália, no território do atual município de Pompeia. A antiga cidade foi destruída durante uma grande erupção do vulcão Vesúvio em 79 d.C., que provocou uma intensa chuva de cinzas que sepultou completamente a cidade. Ela se manteve oculta por 1600 anos, até ser reencontrada por acaso em 1748. Cinzas e lama protegeram as construções e objetos dos efeitos do tempo, moldando também os corpos das vítimas, o que fez com que fossem encontradas do modo exato como foram atingidas pela erupção. Desde então, as escavações proporcionaram um sítio arqueológico extraordinário, que possibilita uma visão detalhada na vida de uma cidade dos tempos da Roma Antiga. Mais detalhes no artigo a seguir.

Os moradores de Pompéia nunca souberam o que os atingiu. Não sabiam o que era um vulcão - a palavra nem existia em latim. Aqueles que sobreviveram, no entanto, jamais esqueceriam seu impacto.

O dia 24 de agosto de 79 amanheceu em Pompeia sem qualquer prenúncio de anormalidade. O comércio abriu suas portas às 8 horas, como de costume, mas os negócios estavam abaixo do normal. É provável que muita gente ainda estivesse dormindo, já que na noite anterior os moradores da cidade, como de todo o Império Romano, haviam ido às lutas de gladiadores, peças de teatro e tomado muito, muito vinho: tudo em celebração a Vulcano, deus do fogo (uma mera – e incrível – coincidência com os fatos que ocorreriam a seguir).

Situada no pé do monte Vesúvio, às margens do que hoje conhecemos como baía de Nápoles, Pompeia era uma cidade próspera, com cerca de 20 mil moradores. Toda murada, tinha uma área urbana – onde se concentravam residências e casas comerciais como padarias, bares, lavanderias, bancos e banhos públicos – e uma rural, ocupada por grandes propriedades dedicadas à agricultura, onde se plantando quase tudo dava: principalmente trigo, azeitona e uva para a produção do famoso vinho da cidade. O centro urbano de Pompeia consistia de uma parte mais antiga, construída pelo povo itálico séculos antes de a cidade tornar-se colônia romana, em 80 a.C., e outra mais recente, com duas ruas principais, que cortavam a cidade nos sentidos norte-sul e leste-oeste, e quarteirões regulares. Além da agricultura favorecida pelas terras produtivas da região, era o porto às margens do mar Mediterrâneo que garantia a saúde econômica de Pompéia. Barcos chegavam o tempo todo trazendo comerciantes estrangeiros, sobretudo fenícios. Podia-se comprar de tudo no porto de Pompeia, desde macacos africanos e canela da China até escravos e escravas orientais, famosas por seus “truquezinhos” sexuais. E circulava muito dinheiro por ali.

A elite local era formada na maior parte por proprietários rurais, que tinham casas no campo e também na costa de Pompéia, à beira-mar, com marinas particulares e seus próprios barcos. Além deles, faziam parte da elite os donos das lojas mais sofisticadas, casas de banho e indústrias de tecido. Os comerciantes eram o que hoje chamamos de classe média e moravam, geralmente, em casas construídas sobre seus estabelecimentos. Com eles normalmente moravam seus familiares (pais, filhos, irmãos, avós) e escravos. Na base da pirâmide social ficavam os trabalhadores rurais.

Ricos e pobres, todos se achavam abençoados por morar em Pompeia. Eles acreditavam que a fertilidade da terra era um presente dos deuses e não desconfiavam que o solo tinha tanta qualidade por causa de antigas erupções do Vesúvio. Aliás, eles nem sabiam o que era um vulcão. Tanto que, na época, sequer havia uma palavra em latim para designar o vulcanismo. Para eles, o Vesúvio era apenas uma bela montanha: um calado e amistoso vizinho. Por isso, o mar agitado dos dias anteriores àquele 24 de agosto e o leve tremor de terra que fez o vinho balançar dentro dos cálices na festa de Vulcano não foram interpretados como sinais de perigo.

A quinta-feira era apenas mais um dia de calor. Eram pouco mais de 10 horas quando um forte estrondo foi ouvido. Seguido de um abalo. No horizonte, uma densa nuvem preta se ergueu sobre o Vesúvio.
A 30 quilômetros dali, um dos mais brilhantes homens de seu tempo escutou o barulho. Em sua casa de campo em Miceno, estava Plínio, o Velho, uma das maiores autoridades em fenômenos naturais da época (uma espécie de Darwin do século I) e autor dos 37 volumes de História Natural. Plínio foi surpreendido pela explosão do Vesúvio. Até aquela data, a única coisa que ele havia registrado sobre o assunto foram as marcas de queimada no topo do Vesúvio. Hoje se sabe que a última erupção do Vesúvio antes daquela manhã havia ocorrido por volta de 1800 a.C..

Mas em breve não haveria mais dúvida de que algo único estava acontecendo. Em poucos minutos, a ensolarada manhã virou noite. A espessa e escura fumaça liberada pelo Vesúvio subiu para a atmosfera e bloqueou completamente o sol. Plínio, o Jovem – sobrinho do Velho, que estava com ele em Miceno e foi o autor do principal documento sobre a erupção do Vesúvio, testemunhou a cena: “Dificilmente podíamos ver as coisas, parecia noite, não como quando desaparece a lua ou fica nublado, mas como em um lugar fechado e sem luz”, escreveu numa carta enviada para o amigo e historiador Tácito.

                                                              Imagens das vítimas de Pompeia

Impressionado com a noite no meio do dia e com o barulho, o povo saiu às ruas, curioso para ver o espetáculo. Pouca gente – ou ninguém – deve ter se dado conta do risco que corriam. É que aquela nuvem negra não era só fumaça. Junto com as cinzas, o Vesúvio lançou na atmosfera toneladas de rochas a uma altura tão grande – algumas devem ter atingido 10 mil metros – que elas só começaram a cair minutos depois da explosão inicial. As primeiras vítimas devem ter sido atingidas pela chuva de pedras e, em seguida, com o acúmulo de detritos sobre os telhados, pelos desabamentos.

Quando as pedras começaram a cair do céu, Julius Polibius mandou reunir toda sua família na parte de trás de sua casa, que passava por uma reforma. Filho de um escravo liberto e cheio de ambições políticas, Polibius tornara-se um próspero comerciante. Naquele ano, ele era candidato ao cargo de aedile, uma espécie de vereador, responsável por conservar os bens públicos. Polibius chamou a mulher, filhos e escravos e se puseram a rezar. Não deu certo. Junto com as pedras, caiu sobre a cidade uma nuvem de gases tóxicos. Assim, nas casas afastadas e resistentes, o Vesúvio matou por asfixia. Dos 13 corpos encontrados na residência de Polibius, 15 séculos depois, alguns estão abraçados, há um casal deitado na mesma cama, outro ajoelhado.

Se Polibius e a família preferiram ficar e rezar (quem sabe não conseguissem fugir com uma das mulheres em adiantada gravidez), outros resolveram seguir a opção aparentemente mais óbvia: correr. Não adiantou. Muita gente deixou suas casas percebendo o risco que corria lá dentro. Os vestígios arqueológicos indicam que homens, mulheres, crianças e idosos saíram com colchões e almofadas sobre as cabeças, tentando se proteger das rochas ferventes que caíam do céu. Muitos levavam consigo todos seus bens: joias, moedas, estátuas, prataria e a chave da porta da frente.

Uma mulher, de cerca de 30 anos, morreu do lado de fora de um hotel. Levava consigo uma certa quantidade de joias, incluindo um bracelete de ouro com a inscrição: do mestre para sua escrava. Um homem de negócios, que carregava pelas ruas uma bolsa cheia de ouro, morreu sentado, encostado em uma pilastra. Mesmo quem resolveu aproveitar a fuga em massa para tentar enriquecer deu-se mal. Um saqueador morreu sobre o telhado da “Loja do Salvius” (é exatamente essa a inscrição sobre a porta da casa onde foi encontrado), que vendia anéis e peças de ouro. Uma rica e elegante senhora, usando joias caras, foi soterrada no galpão em que moravam os gladiadores. Estranho lugar para encontrar uma jovem patrícia. O que ela fazia lá? As especulações dos arqueólogos são de que ela era uma das mulheres entediadas que, à procura de aventura, prestava certos favores aos gladiadores. A nobre dama teria sido surpreendida pela erupção numa de suas visitas clandestinas. Ou, quem sabe, vendo-se condenada pelo vulcão, escolheu essa como a melhor forma de morrer. Quem sabe?

Em Miceno, Plínio, o Velho, assistia de camarote à densa fumaça preta que subia do Vesúvio, quando resolveu ver aquele fenômeno mais de perto. Ele mandou preparar um pequeno barco, convocou uma tripulação de nove homens e pouco antes das 5 da tarde se pôs a caminho de Pompeia. A viagem mostrou-se uma péssima ideia. Ao se aproximarem da cidade, as altas temperaturas e um densa neblina negra fizeram com que o barco se desviasse de seu destino. O jeito foi ancorar na vizinha Estábia. O desvio salvou sua vida. Pelo menos por mais algumas horas.

Em Pompeia a chuva de pedra já durava pelo menos 12 horas e praticamente toda a cidade estava soterrada sob cerca de 4 metros de rochas vulcânicas, quando o pior aconteceu. À escuridão das sombras das nuvens de cinza, juntou-se o negrume da noite. Por isso, e porque não restassem muitas testemunhas no local, talvez ninguém tenha visto quando a parte mais letal da erupção se aproximou. Viajando a uma velocidade superior a 120 quilômetros por hora, uma avalanche de cinzas e rochas superquentes, com temperaturas que ultrapassavam os 500 graus Celsius desceu sobre a cidade. No total, 4 quilômetros cúbicos de material foram ejetados pelo Vesúvio. 

Dormindo com o inimigo

As cidades em torno do Vesúvio nem desconfiavam do risco que corriam.

Miceno
A 30 quilômetros de Pompeia, era uma cidade de veraneio dos romanos ricos, entre eles Plínio, o Velho. Foi dali que Plínio, o Jovem, acompanhou a erupção. foi atingida pelos tremores de terra e pela nuvem de poeira, mas teve poucas vítimas, em sua maioria crianças e velhos.

Herculano
Com cerca de 5 mil habitantes, foi coberta por 23 metros de cinzas e pedras depois da erupção. Em Herculano, ao contrário de Pompeia, os esqueletos das vítimas foram mais preservados, por causa das características da erupção. Perdeu cerca de 80% de sua população.

Pompeia
Localizada na baía de Nápoles, foi soterrada por 6 metros de cinzas e rochas na erupção do Vesúvio. As primeiras vítimas morreram atingidas por pedras ou desabamentos. A seguir, acabaram intoxicadas. Acredita-se que entre 4 mil e 8 mil dos 20 mil habitantes tenham morrido.

Estábia
Ficava a apenas 5 quilômetros de Pompeia e, a exemplo de outras cidades ao redor, como Oplontis, foi destruída. ganhou fama por ter sido onde plínio, o velho, morreu, intoxicado por gases do vulcão. O número de vítimas chegou às centenas.

REFERÊNCIAS:
BUTTERWORTH, Alex. Pompeia: a cidade viva. Ed. Record.

BEARD, Mary. Pompeia. Ed. Esfera dos livros.

HARRIS, Robert. Pompeia. Ed. Record.

Assista ao documentário: Pompeia, a sombra do Vesúvio.

11 de dez. de 2013 | By: Fabrício

Ditadura militar e democracia no Brasil: história, imagem e testemunho


A historiadora Maria Paula Araújo, professora do Instituto de História da Universidade Federal do Rio de Janeiro (IH-UFRJ), disponibilizou gratuitamente na internet o livro paradidático "Ditadura militar e democracia no Brasil: história, imagem e testemunho". O livro, organizado por ela, por Izabel Pimentel da Silva, Desirree Reis e outros membros do Projeto Marcas da Memória, é voltado para professores e alunos das escolas de Ensino Básico. O objetivo da publicação é servir de instrumento de trabalho para os professores de Ensino Fundamental e Médio que desejam tratar do tema com seus alunos adolescentes e jovens adultos. Aproveite!

Faça o download no seguinte link: http://goo.gl/QK9UPW
5 de dez. de 2013 | By: Fabrício

Hugo Boss e o Nazismo

Soldados alemães

Você sabia porque os uniformes alemães da Segunda Guerra Mundial eram tão bonitos? Hugo Boss desenhou e criou eles.

Fornecedor exclusivo dos uniformes negros das SS (Schutzstaffel), da Juventude Hitlerista e de outras agremiações nazistas (sempre muito preocupadas com a elegância), ganhou milhões entre 1934 e 1945 e para dar conta das encomendas, a solução foi apelar para a mão de obra - compreensivelmente baratíssima – dos prisioneiros de guerra.

De início, paralelamente à fabricação de uniformes, que era compartilhada com outras alfaiatarias, a Hugo Boss também produzia roupas normais para trabalhadores e camisas. Em 1938, a situação mudou com o reinício do recrutamento militar na Alemanha. O foco passou a ser exclusivamente a confecção de uniformes para as forças nazistas. A empresa chegou a contar com 300 funcionários nesta época. Como era difícil encontrar mão de obra durante a guerra, a fábrica se beneficiou de 140 trabalhadores forçados, à maioria deles, mulheres. Outros 40 prisioneiros de guerra franceses trabalharam para a Hugo Boss de outubro de 1940 a abril de 1941.

Após a Segunda Guerra Mundial, Hugo Ferdinand Boss foi processado e multado por sua participação no nazismo.

Hugo Ferdinand Boss (1885-1948)

Durante o período de desnazificação, com o fim do regime, em 1945, Boss foi considerado como "responsável". Apesar disso, ele foi autorizado a continuar tocando sua fábrica. Mas, não viveu tempo suficiente para ver sua empresa virar uma grife mundialmente famosa, morrendo aos 63 anos.

Sinônimo de elegância e luxo, a HUGO BOSS é um produto “Made in Germany” altamente respeitado no mundo da moda. No entanto, a tradicional marca alemã carrega um passado de envolvimento nazista. Hugo Ferdinand Boss teve uma relação muito estreita com o nazismo. Em 1931 se filiou ao Partido Nacional-Socialista (NSDAP), de Adolf Hitler. Antes e durante a Segunda Guerra Mundial, a empresa desenhou e produziu uniformes de tropas e oficiais da Wehrmacht e SS. Além disso, a empresa foi acusada de usar mão-de-obra forçada, onde os trabalhadores tinham uma carga diária de 12 horas, com um curto período de intervalo. O empresário, após o término da guerra, foi tachado de “oportunista do Terceiro Reich“, multado em 80 mil marcos, e privado de seus direitos civis. “A fábrica de roupas fundada pelo senhor Hugo Boss produziu roupas de trabalho e achamos que também uniformes da SS. Até agora, nós não temos arquivos na companhia e nós estamos tentando descobrir o que aconteceu“, declarou Monika Steilen, porta-voz da empresa, em 1997, quando a notícia foi divulgada por uma revista austríaca.

Uniformes do III Reich e da SS desenhadas por Hugo Boss

A marca alemã Hugo Boss emitiu um pedido formal de desculpas dia 22 de setembro de 2011, por ter usado mão de obra escrava na produção de uniformes nazistas durante a Segunda Guerra Mundial. No comunicado, a empresa expressa o seu profundo pesar às vítimas que sofreram na fábrica dirigida por Hugo Ferdinand. “Nós nunca escondemos nada e sempre buscamos trazer clareza ao que aconteceu no passado. É nossa responsabilidade com a empresa, com nossos funcionários, nossos clientes e com todos os interessados na história da Hugo Boss.”

O pedido de desculpas foi realizado após o lançamento de um novo livro que revela a ligação do estilista alemão com o nazismo. Segundo a publicação, Hugo Boss, não somente era o estilista preferido de Hitler como também um fervoroso adepto do partido nazista.

Assista ao vídeo a seguir:

3 de dez. de 2013 | By: Fabrício

SANKOFA – Revista de História da África e de Estudos da Diáspora Africana


A revista eletrônica SANKOFA – REVISTA DE HISTÓRIA DA ÁFRICA E DE ESTUDOS DA DIÁSPORA AFRICANA é uma publicação do NEACP - Núcleo de Estudos de África, Colonialidade e Cultura Política, da USP. A revista visa ser um elemento pedagógico na formação de novos pesquisadores, professores e alunos, contribuindo também com a divulgação de estudos desta importante temática.

A primeira edição saiu em 2008, com um artigo sobre a História da África e eurocentrismo. A revista já está no seu 11º número.

Um material excelente para aqueles que se interessam pelo tema e como direcionador para o ensino de História da África nas escolas.


Boa leitura.