27 de dez. de 2013 | By: Fabrício

A fúria de Vulcano em Pompeia

Ruínas da cidade de Pompeia

Pompeia foi outrora uma cidade do Império Romano situada a 22 km da cidade de Nápoles, na Itália, no território do atual município de Pompeia. A antiga cidade foi destruída durante uma grande erupção do vulcão Vesúvio em 79 d.C., que provocou uma intensa chuva de cinzas que sepultou completamente a cidade. Ela se manteve oculta por 1600 anos, até ser reencontrada por acaso em 1748. Cinzas e lama protegeram as construções e objetos dos efeitos do tempo, moldando também os corpos das vítimas, o que fez com que fossem encontradas do modo exato como foram atingidas pela erupção. Desde então, as escavações proporcionaram um sítio arqueológico extraordinário, que possibilita uma visão detalhada na vida de uma cidade dos tempos da Roma Antiga. Mais detalhes no artigo a seguir.

Os moradores de Pompéia nunca souberam o que os atingiu. Não sabiam o que era um vulcão - a palavra nem existia em latim. Aqueles que sobreviveram, no entanto, jamais esqueceriam seu impacto.

O dia 24 de agosto de 79 amanheceu em Pompeia sem qualquer prenúncio de anormalidade. O comércio abriu suas portas às 8 horas, como de costume, mas os negócios estavam abaixo do normal. É provável que muita gente ainda estivesse dormindo, já que na noite anterior os moradores da cidade, como de todo o Império Romano, haviam ido às lutas de gladiadores, peças de teatro e tomado muito, muito vinho: tudo em celebração a Vulcano, deus do fogo (uma mera – e incrível – coincidência com os fatos que ocorreriam a seguir).

Situada no pé do monte Vesúvio, às margens do que hoje conhecemos como baía de Nápoles, Pompeia era uma cidade próspera, com cerca de 20 mil moradores. Toda murada, tinha uma área urbana – onde se concentravam residências e casas comerciais como padarias, bares, lavanderias, bancos e banhos públicos – e uma rural, ocupada por grandes propriedades dedicadas à agricultura, onde se plantando quase tudo dava: principalmente trigo, azeitona e uva para a produção do famoso vinho da cidade. O centro urbano de Pompeia consistia de uma parte mais antiga, construída pelo povo itálico séculos antes de a cidade tornar-se colônia romana, em 80 a.C., e outra mais recente, com duas ruas principais, que cortavam a cidade nos sentidos norte-sul e leste-oeste, e quarteirões regulares. Além da agricultura favorecida pelas terras produtivas da região, era o porto às margens do mar Mediterrâneo que garantia a saúde econômica de Pompéia. Barcos chegavam o tempo todo trazendo comerciantes estrangeiros, sobretudo fenícios. Podia-se comprar de tudo no porto de Pompeia, desde macacos africanos e canela da China até escravos e escravas orientais, famosas por seus “truquezinhos” sexuais. E circulava muito dinheiro por ali.

A elite local era formada na maior parte por proprietários rurais, que tinham casas no campo e também na costa de Pompéia, à beira-mar, com marinas particulares e seus próprios barcos. Além deles, faziam parte da elite os donos das lojas mais sofisticadas, casas de banho e indústrias de tecido. Os comerciantes eram o que hoje chamamos de classe média e moravam, geralmente, em casas construídas sobre seus estabelecimentos. Com eles normalmente moravam seus familiares (pais, filhos, irmãos, avós) e escravos. Na base da pirâmide social ficavam os trabalhadores rurais.

Ricos e pobres, todos se achavam abençoados por morar em Pompeia. Eles acreditavam que a fertilidade da terra era um presente dos deuses e não desconfiavam que o solo tinha tanta qualidade por causa de antigas erupções do Vesúvio. Aliás, eles nem sabiam o que era um vulcão. Tanto que, na época, sequer havia uma palavra em latim para designar o vulcanismo. Para eles, o Vesúvio era apenas uma bela montanha: um calado e amistoso vizinho. Por isso, o mar agitado dos dias anteriores àquele 24 de agosto e o leve tremor de terra que fez o vinho balançar dentro dos cálices na festa de Vulcano não foram interpretados como sinais de perigo.

A quinta-feira era apenas mais um dia de calor. Eram pouco mais de 10 horas quando um forte estrondo foi ouvido. Seguido de um abalo. No horizonte, uma densa nuvem preta se ergueu sobre o Vesúvio.
A 30 quilômetros dali, um dos mais brilhantes homens de seu tempo escutou o barulho. Em sua casa de campo em Miceno, estava Plínio, o Velho, uma das maiores autoridades em fenômenos naturais da época (uma espécie de Darwin do século I) e autor dos 37 volumes de História Natural. Plínio foi surpreendido pela explosão do Vesúvio. Até aquela data, a única coisa que ele havia registrado sobre o assunto foram as marcas de queimada no topo do Vesúvio. Hoje se sabe que a última erupção do Vesúvio antes daquela manhã havia ocorrido por volta de 1800 a.C..

Mas em breve não haveria mais dúvida de que algo único estava acontecendo. Em poucos minutos, a ensolarada manhã virou noite. A espessa e escura fumaça liberada pelo Vesúvio subiu para a atmosfera e bloqueou completamente o sol. Plínio, o Jovem – sobrinho do Velho, que estava com ele em Miceno e foi o autor do principal documento sobre a erupção do Vesúvio, testemunhou a cena: “Dificilmente podíamos ver as coisas, parecia noite, não como quando desaparece a lua ou fica nublado, mas como em um lugar fechado e sem luz”, escreveu numa carta enviada para o amigo e historiador Tácito.

                                                              Imagens das vítimas de Pompeia

Impressionado com a noite no meio do dia e com o barulho, o povo saiu às ruas, curioso para ver o espetáculo. Pouca gente – ou ninguém – deve ter se dado conta do risco que corriam. É que aquela nuvem negra não era só fumaça. Junto com as cinzas, o Vesúvio lançou na atmosfera toneladas de rochas a uma altura tão grande – algumas devem ter atingido 10 mil metros – que elas só começaram a cair minutos depois da explosão inicial. As primeiras vítimas devem ter sido atingidas pela chuva de pedras e, em seguida, com o acúmulo de detritos sobre os telhados, pelos desabamentos.

Quando as pedras começaram a cair do céu, Julius Polibius mandou reunir toda sua família na parte de trás de sua casa, que passava por uma reforma. Filho de um escravo liberto e cheio de ambições políticas, Polibius tornara-se um próspero comerciante. Naquele ano, ele era candidato ao cargo de aedile, uma espécie de vereador, responsável por conservar os bens públicos. Polibius chamou a mulher, filhos e escravos e se puseram a rezar. Não deu certo. Junto com as pedras, caiu sobre a cidade uma nuvem de gases tóxicos. Assim, nas casas afastadas e resistentes, o Vesúvio matou por asfixia. Dos 13 corpos encontrados na residência de Polibius, 15 séculos depois, alguns estão abraçados, há um casal deitado na mesma cama, outro ajoelhado.

Se Polibius e a família preferiram ficar e rezar (quem sabe não conseguissem fugir com uma das mulheres em adiantada gravidez), outros resolveram seguir a opção aparentemente mais óbvia: correr. Não adiantou. Muita gente deixou suas casas percebendo o risco que corria lá dentro. Os vestígios arqueológicos indicam que homens, mulheres, crianças e idosos saíram com colchões e almofadas sobre as cabeças, tentando se proteger das rochas ferventes que caíam do céu. Muitos levavam consigo todos seus bens: joias, moedas, estátuas, prataria e a chave da porta da frente.

Uma mulher, de cerca de 30 anos, morreu do lado de fora de um hotel. Levava consigo uma certa quantidade de joias, incluindo um bracelete de ouro com a inscrição: do mestre para sua escrava. Um homem de negócios, que carregava pelas ruas uma bolsa cheia de ouro, morreu sentado, encostado em uma pilastra. Mesmo quem resolveu aproveitar a fuga em massa para tentar enriquecer deu-se mal. Um saqueador morreu sobre o telhado da “Loja do Salvius” (é exatamente essa a inscrição sobre a porta da casa onde foi encontrado), que vendia anéis e peças de ouro. Uma rica e elegante senhora, usando joias caras, foi soterrada no galpão em que moravam os gladiadores. Estranho lugar para encontrar uma jovem patrícia. O que ela fazia lá? As especulações dos arqueólogos são de que ela era uma das mulheres entediadas que, à procura de aventura, prestava certos favores aos gladiadores. A nobre dama teria sido surpreendida pela erupção numa de suas visitas clandestinas. Ou, quem sabe, vendo-se condenada pelo vulcão, escolheu essa como a melhor forma de morrer. Quem sabe?

Em Miceno, Plínio, o Velho, assistia de camarote à densa fumaça preta que subia do Vesúvio, quando resolveu ver aquele fenômeno mais de perto. Ele mandou preparar um pequeno barco, convocou uma tripulação de nove homens e pouco antes das 5 da tarde se pôs a caminho de Pompeia. A viagem mostrou-se uma péssima ideia. Ao se aproximarem da cidade, as altas temperaturas e um densa neblina negra fizeram com que o barco se desviasse de seu destino. O jeito foi ancorar na vizinha Estábia. O desvio salvou sua vida. Pelo menos por mais algumas horas.

Em Pompeia a chuva de pedra já durava pelo menos 12 horas e praticamente toda a cidade estava soterrada sob cerca de 4 metros de rochas vulcânicas, quando o pior aconteceu. À escuridão das sombras das nuvens de cinza, juntou-se o negrume da noite. Por isso, e porque não restassem muitas testemunhas no local, talvez ninguém tenha visto quando a parte mais letal da erupção se aproximou. Viajando a uma velocidade superior a 120 quilômetros por hora, uma avalanche de cinzas e rochas superquentes, com temperaturas que ultrapassavam os 500 graus Celsius desceu sobre a cidade. No total, 4 quilômetros cúbicos de material foram ejetados pelo Vesúvio. 

Dormindo com o inimigo

As cidades em torno do Vesúvio nem desconfiavam do risco que corriam.

Miceno
A 30 quilômetros de Pompeia, era uma cidade de veraneio dos romanos ricos, entre eles Plínio, o Velho. Foi dali que Plínio, o Jovem, acompanhou a erupção. foi atingida pelos tremores de terra e pela nuvem de poeira, mas teve poucas vítimas, em sua maioria crianças e velhos.

Herculano
Com cerca de 5 mil habitantes, foi coberta por 23 metros de cinzas e pedras depois da erupção. Em Herculano, ao contrário de Pompeia, os esqueletos das vítimas foram mais preservados, por causa das características da erupção. Perdeu cerca de 80% de sua população.

Pompeia
Localizada na baía de Nápoles, foi soterrada por 6 metros de cinzas e rochas na erupção do Vesúvio. As primeiras vítimas morreram atingidas por pedras ou desabamentos. A seguir, acabaram intoxicadas. Acredita-se que entre 4 mil e 8 mil dos 20 mil habitantes tenham morrido.

Estábia
Ficava a apenas 5 quilômetros de Pompeia e, a exemplo de outras cidades ao redor, como Oplontis, foi destruída. ganhou fama por ter sido onde plínio, o velho, morreu, intoxicado por gases do vulcão. O número de vítimas chegou às centenas.

REFERÊNCIAS:
BUTTERWORTH, Alex. Pompeia: a cidade viva. Ed. Record.

BEARD, Mary. Pompeia. Ed. Esfera dos livros.

HARRIS, Robert. Pompeia. Ed. Record.

Assista ao documentário: Pompeia, a sombra do Vesúvio.

11 de dez. de 2013 | By: Fabrício

Ditadura militar e democracia no Brasil: história, imagem e testemunho


A historiadora Maria Paula Araújo, professora do Instituto de História da Universidade Federal do Rio de Janeiro (IH-UFRJ), disponibilizou gratuitamente na internet o livro paradidático "Ditadura militar e democracia no Brasil: história, imagem e testemunho". O livro, organizado por ela, por Izabel Pimentel da Silva, Desirree Reis e outros membros do Projeto Marcas da Memória, é voltado para professores e alunos das escolas de Ensino Básico. O objetivo da publicação é servir de instrumento de trabalho para os professores de Ensino Fundamental e Médio que desejam tratar do tema com seus alunos adolescentes e jovens adultos. Aproveite!

Faça o download no seguinte link: http://goo.gl/QK9UPW
5 de dez. de 2013 | By: Fabrício

Hugo Boss e o Nazismo

Soldados alemães

Você sabia porque os uniformes alemães da Segunda Guerra Mundial eram tão bonitos? Hugo Boss desenhou e criou eles.

Fornecedor exclusivo dos uniformes negros das SS (Schutzstaffel), da Juventude Hitlerista e de outras agremiações nazistas (sempre muito preocupadas com a elegância), ganhou milhões entre 1934 e 1945 e para dar conta das encomendas, a solução foi apelar para a mão de obra - compreensivelmente baratíssima – dos prisioneiros de guerra.

De início, paralelamente à fabricação de uniformes, que era compartilhada com outras alfaiatarias, a Hugo Boss também produzia roupas normais para trabalhadores e camisas. Em 1938, a situação mudou com o reinício do recrutamento militar na Alemanha. O foco passou a ser exclusivamente a confecção de uniformes para as forças nazistas. A empresa chegou a contar com 300 funcionários nesta época. Como era difícil encontrar mão de obra durante a guerra, a fábrica se beneficiou de 140 trabalhadores forçados, à maioria deles, mulheres. Outros 40 prisioneiros de guerra franceses trabalharam para a Hugo Boss de outubro de 1940 a abril de 1941.

Após a Segunda Guerra Mundial, Hugo Ferdinand Boss foi processado e multado por sua participação no nazismo.

Hugo Ferdinand Boss (1885-1948)

Durante o período de desnazificação, com o fim do regime, em 1945, Boss foi considerado como "responsável". Apesar disso, ele foi autorizado a continuar tocando sua fábrica. Mas, não viveu tempo suficiente para ver sua empresa virar uma grife mundialmente famosa, morrendo aos 63 anos.

Sinônimo de elegância e luxo, a HUGO BOSS é um produto “Made in Germany” altamente respeitado no mundo da moda. No entanto, a tradicional marca alemã carrega um passado de envolvimento nazista. Hugo Ferdinand Boss teve uma relação muito estreita com o nazismo. Em 1931 se filiou ao Partido Nacional-Socialista (NSDAP), de Adolf Hitler. Antes e durante a Segunda Guerra Mundial, a empresa desenhou e produziu uniformes de tropas e oficiais da Wehrmacht e SS. Além disso, a empresa foi acusada de usar mão-de-obra forçada, onde os trabalhadores tinham uma carga diária de 12 horas, com um curto período de intervalo. O empresário, após o término da guerra, foi tachado de “oportunista do Terceiro Reich“, multado em 80 mil marcos, e privado de seus direitos civis. “A fábrica de roupas fundada pelo senhor Hugo Boss produziu roupas de trabalho e achamos que também uniformes da SS. Até agora, nós não temos arquivos na companhia e nós estamos tentando descobrir o que aconteceu“, declarou Monika Steilen, porta-voz da empresa, em 1997, quando a notícia foi divulgada por uma revista austríaca.

Uniformes do III Reich e da SS desenhadas por Hugo Boss

A marca alemã Hugo Boss emitiu um pedido formal de desculpas dia 22 de setembro de 2011, por ter usado mão de obra escrava na produção de uniformes nazistas durante a Segunda Guerra Mundial. No comunicado, a empresa expressa o seu profundo pesar às vítimas que sofreram na fábrica dirigida por Hugo Ferdinand. “Nós nunca escondemos nada e sempre buscamos trazer clareza ao que aconteceu no passado. É nossa responsabilidade com a empresa, com nossos funcionários, nossos clientes e com todos os interessados na história da Hugo Boss.”

O pedido de desculpas foi realizado após o lançamento de um novo livro que revela a ligação do estilista alemão com o nazismo. Segundo a publicação, Hugo Boss, não somente era o estilista preferido de Hitler como também um fervoroso adepto do partido nazista.

Assista ao vídeo a seguir:

3 de dez. de 2013 | By: Fabrício

SANKOFA – Revista de História da África e de Estudos da Diáspora Africana


A revista eletrônica SANKOFA – REVISTA DE HISTÓRIA DA ÁFRICA E DE ESTUDOS DA DIÁSPORA AFRICANA é uma publicação do NEACP - Núcleo de Estudos de África, Colonialidade e Cultura Política, da USP. A revista visa ser um elemento pedagógico na formação de novos pesquisadores, professores e alunos, contribuindo também com a divulgação de estudos desta importante temática.

A primeira edição saiu em 2008, com um artigo sobre a História da África e eurocentrismo. A revista já está no seu 11º número.

Um material excelente para aqueles que se interessam pelo tema e como direcionador para o ensino de História da África nas escolas.


Boa leitura.
17 de nov. de 2013 | By: Fabrício

A Ordem dos Cavaleiros Templários


Os Cavaleiros Templários foram uma das primeiras e mais conhecidas ordens militares da Europa Cristã - sociedades de cavaleiros cuja missão, pelo menos aparentemente, era defender e propagar a sua fé religiosa. A ordem dos Templários teve origem no ano de 1118, cerca de suas décadas depois de as Cruzadas europeias terem conquistado a cidade e massacrado os seus habitantes muçulmanos. Um cavaleiro francês chamado Hugues de Payens e oito dos seus companheiros ofereceram os seus serviços ao Rei cristão Balduíno II e juraram defender a cidade contra todo e qualquer inimigo. Como quartel-general da ordem, Balduíno ofereceu-lhes a Mesquita Al Aqsa, onde o Rei Salomão tinha construído o original Templo de Jerusalém. Por essa razão, os cavaleiros apelidaram-se como Pauperes Commilitones Christi Templique Solomonici - expressão latina para "os pobres soldados seguidores de Cristo e do Templo de Salomão" - e ao longo do tempo a ordem passou a ser conhecida como Ordem do Templo ou Templários.

Nos dois séculos que se seguiram, os Templários tornaram-se numa das organizações mais poderosas do mundo medieval. Os seus guerreiros, que usavam sobre as suas armaduras mantos brancos embelezados com uma cruz vermelha, ganharam reputação pela sua destreza na luta, disciplina e tenacidade. Os cavaleiros da ordem juravam obediência total e inquestionável aos seus líderes. De forma geral, lutavam com afinco, tendo em mente que um soldado que fosse considerado cobarde teria que despir o seu manto e tinha que comer no chão, como os cães, durante um ano (a ordem também tinha a política de não pagar resgate por soldados capturados em batalha). Segundo a edição de 1911 da Enciclopédia Católica, cerca de 20 mil soldados Templários deram a vida em batalhas contras às forças muçulmanas ao longo dos anos em que a ordem existiu.

Com o tempo, os Templários também se tornaram numa força política e econômica. Vários papas recompensaram os Templários ordenando que estes ficariam isentos de quaisquer impostos, incluindo a taxa que fazia com que a própria Igreja funcionasse. A ordem foi admitindo vários elementos não-guerreiros por toda a Europa, que iam penhorando os seus tesouros para adquirirem terras e edifícios e para criarem um império financeiro que funcionava como um dos principais sistemas bancários europeus. Chegaram mesmo a controlar o governo de Jerusalém. Depois de os muçulmanos terem recuperado o controlo de Jerusalém em meados do século XIII, o império dos Templários começou a enfraquecer. O fracasso em manter o poder na Terra Santa e os rumores sobre os seus rituais secretos mancharam a reputação da ordem, anteriormente inabalável. No início do século XIV, o rei francês Filipe IV, que tinha feito um grande empréstimo aos Templários, decidiu destruir a ordem para não ter que pagar o que tinha pedido. Filipe conseguiu persuadir o papa Clemente V, um homem francês que a Enciclopédia Católica descreve como sendo uma pessoa de "personalidade fraca e facilmente influenciável", a perseguir os templários, acusando-os de heresia e sacrilégio, como por exemplo, dizendo que cuspiam para o crucifixo.

Em 1307, o rei francês deu ordens secretas para que todos os elementos da ordem do seu país fossem presos no mesmo dia, e muitos deles foram torturados e mortos. O papa Clemente dissolveu oficialmente a ordem dos Templários no ano de 1312. No ano seguinte, o grão-mestre dos Templários, James de Molay, renegou as suas convicções quando estava prestes a morrer na forca em frente à Notre Dame, em Paris. O rei Filipe ordenou a sua deportação para a Ilha de la Cite, onde acabou por morrer na fogueira. Alguns elementos dos Templários conseguiram sobreviver e nos séculos que se seguiram, vários países europeus e os Estados Unidos sofreram grandes reformas e a organização passou de uma ordem militar a fraterna e filantrópica. Hoje em dia, os Cavaleiros Templários estão na lista de organizações não governamentais das Nações Unidas.

FONTE: National Geographic

SAIBA MAIS:
Assista ao documentário a seguir.

14 de nov. de 2013 | By: Fabrício

Odisseia de Homero


A “Odisseia” é o poema épico que narra todas as aventuras vividas por Odisseu (ou Ulisses, como era conhecido na mitologia romana), em seu longo retorno da Guerra de Troia para sua casa em Ítaca. O poema, assim como a “Ilíada”, é atribuído ao poeta grego Homero, que teria vivido no século VIII a.C.. Existe uma grande polêmica sobre a existência ou não de Homero, muitos julgam que a obra é uma composição coletiva de diversos aedos gregos, reunidas por algum organizador que pode ter sido ou não Homero.

Assista ao documentário a seguir, que faz uma análise minuciosa sobre essa obra que seu tornou um clássico.

12 de nov. de 2013 | By: Fabrício

Islamismo: Como surgiu a divisão entre sunitas e xiitas

Em 12 de março de 2012, o líder religioso xiita Abdullah Dadou morreu sufocado durante o incêndio de uma mesquita em Bruxelas, na Bélgica. Ele tinha 46 anos e era pai de 4 filhos. Segundo as autoridades, as chamas foram provocadas por um extremista sunita que entrou no templo com uma faca, um machado e um galão de combustível. Ataques desse tipo estão pipocando ao redor do mundo. Em junho, por exemplo, a explosão de uma bomba no Paquistão matou 15 peregrinos xiitas que voltavam de uma viagem ao Irã.

A violência entre grupos xiitas e sunitas também deixou quase 200 mortos no Iraque. Nove deles eram jogadores e torcedores que morreram com a detonação de um artefato perto de um campo de futebol em Hilla, no sul do país. Todos os dias, a violência sectária faz novas vítimas. Por trás de todas essas cifras recentes, contudo, existe um conflito histórico que remonta às primeiras gerações de muçulmanos. Tudo começou com uma desavença política, que sofreu uma transformação gradual nos séculos seguintes. Os dois lados adquiriram diferenças teológicas, colecionaram ressentimentos e hoje protagonizam um confronto geopolítico. É o que você vai ver nesta reportagem.


O sucessor de Maomé
Para entender a disputa entre xiitas e sunitas é preciso voltar ao século VII, quando Maomé fundou o Islã. Segundo a tradição muçulmana, os seguidores do Profeta deixaram a idolatria para seguir Alá, o deus único. Maomé foi perseguido em Meca, sua cidade natal, e migrou para Medina – onde fundou a primeira comunidade islâmica (a umma). Lá, tornou-se um líder religioso, político e militar. E as revelações divinas feitas a ele ficaram registradas no Corão, o livro sagrado dos muçulmanos.

Maomé nunca deixou claro quem seria seu sucessor. Quando morreu, em 632, a comunidade muçulmana tinha um belo abacaxi nas mãos. Como seria escolhido o novo líder? Que funções ele teria? Quanto duraria o mandato? Assim, surgiram dois grupos antagônicos. “O primeiro, minoritário, preferia reservar a honra da linhagem profética à família de Maomé. Seu pretendente era Ali ibn Abi Talib, genro do Profeta, casado com sua filha Fátima”, diz o historiador Peter Demant, autor de O Mundo Muçulmano. “Para a segunda corrente, porém, qualquer fiel poderia ser candidato, desde que fosse aceito por consenso pela comunidade.”

O grupo menor formava o Shiat Ali, ou “partido de Ali”. Seus seguidores ficaram conhecidos como xiitas. A facção majoritária foi chamada de sunita (do termo Ahl al Sunna, “o povo da tradição”). Em meio à emergência de escolher um novo líder, o círculo íntimo dos seguidores do Profeta elegeu Abu Bakr, velho companheiro de Maomé. Abu Bakr usou o título de califa (khalifa khalifa), uma palavra árabe que combina as ideias de sucessor e representante. Os sunitas aplaudiram a escolha, mas os xiitas protestaram: eles insistiam que Ali era o candidato legítimo.

Pouco antes de morrer, em 634, Abu Bakr apontou Umar ibn Al-Khatab como seu sucessor. As tropas de Umar expandiram o domínio do Islã pela península arábica, Egito, Síria, Palestina, Mesopotâmia e parte do Cáucaso. Em seu leito de morte, Umar nomeou um conselho para decidir quem seria o terceiro califa. E o escolhido foi Uthman ibn Affan, membro de uma família grã-fina de Umaya, em Meca. Uthman derrotou a Pérsia e ampliou ainda mais os domínios do califado, mas os conflitos internos minaram seu governo. As tribos nômades o identificavam com os privilégios dos aristocratas que Maomé havia combatido. A crise desbancou para uma guerra civil e rebeldes muçulmanos assassinaram Uthman em 656, abrindo espaço para que Ali – o preferido dos xiitas – se tornasse califa. “Quando Ali finalmente assumiu, as divisões eram profundas demais para que ele conseguisse impor sua autoridade”, diz Demant. Ali foi morto 5 anos depois – também pelas mãos de um opositor. Os xiitas apoiaram a posse de Hassan, filho de Ali, mas o jovem cedeu ante a oposição de Muawiya ibn Abu Sufyan, governador da Síria. Muawiya fundou então a primeira dinastia de califas: a dos omíadas, sunitas. Os sunitas reconheceram o reinado dos 4 primeiros califas – os Reshidun (“os retamente justos”). Para os xiitas só o reinado de Ali foi legítimo

A mutação do conflito
Nos séculos seguintes, a divisão passou a incluir também agravos e diferenças teológicas. E essas mudanças começaram a tomar forma em 680. Foi quando Hussein, filho caçula de Ali e neto de Maomé, comandou uma rebelião xiita para impedir que o califa omíada Yazid assumisse o trono. Hussein foi degolado e seus aliados acabaram mortos na Batalha de Karbala, no atual Iraque. “O tratamento dado a Hussein motivou ressentimentos entre os xiitas. A celebração de seu assassinato durante a Ashura (o décimo dia do mês de Muharran) se tornou um período emotivo no qual a comunidade xiita compartilha seu sofrimento”, diz Yvonne Haddad, professora de História do Islã na Universidade de Georgetown.

A tragédia também ajuda a entender por que os xiitas valorizam tanto a noção de martírio. Segundo Haddad, a principal distinção entre os grupos vem de sua visão de mundo. Sunitas acreditam que o Corão é a palavra eterna de Deus que coexistia com Ele antes da Criação. Já para os xiitas, o Corão foi criado no tempo e passou a existir quando Deus se revelou à humanidade. Isso faz toda a diferença na maneira como eles leem o livro sagrado. “Xiitas consideram que precisam ser guiados para interpretar o Corão na vida diária, pois o livro depende da época e do lugar. Assim, precisam um imã (líder religioso) para ajudá-los a entender a mensagem do Corão”, diz Haddad. “Os sunitas, por sua vez, acreditam que a palavra de Deus é a mesma e vale para qualquer tempo e lugar. Portanto, as opiniões dos clérigos sunitas não são tomadas muito seriamente. E aqueles que clamam por um retorno às interpretações originais são levados muito a sério. Sunitas tendem a ser mais doutrinários.” 

Os dois grupos também seguem diferentes coleções de Hadith, as narrativas sobre atos e palavras do Profeta. Isso porque cada lado confia em narradores diferentes. Sunitas preferem aqueles que eram próximos de Abu Bakr, enquanto os xiitas confiam nos que pertenciam ao grupo de Ali. Aisha, por exemplo, é considerada uma fonte importante pelos sunitas e desprezada pelos xiitas por ter lutado contra Ali.


Aqui é possível fazer uma comparação com o cisma cristão, pois ele também deriva de um embate sobre a autoridade religiosa.

Católicos defendiam que a Igreja tinha o poder de definir o que é o cristianismo, enquanto os protestantes deixavam essa decisão na mão dos indivíduos. No caso do cisma muçulmano, a discussão é um pouco diferente. Sunitas creem que a autoridade está calcada na tradição, isto é, nas práticas do Profeta e de seu círculo íntimo tal como eles a definiram.

Já para os xiitas a autoridade está nas “fontes de emulação” – os líderes supremos da hierarquia religiosa xiita, como os aiatolás. Sunitas também consideram que o imã é simplesmente a pessoa que lidera a congregação, como o pastor dos cristãos. Já para os xiitas, o termo Imã (com letra maiúscula) assumiu um significado totalmente diferente. Ele se refere aos verdadeiros sucessores espirituais do Profeta Maomé, começando por Ali. Os xiitas veem os Imãs como uma espécie de santos – o que para muitos sunitas é uma verdadeira heresia.

Além disso, os xiitas cultivam uma expectativa messiânica sobre a vinda do Mahdi (Redentor), o que não se observa tanto na outra corrente. Ou seja: os sunitas são ancorados no passado, ao passo que os xiitas são mais experimentadores e olham mais para o futuro. O título de aiatolá, aliás, é bastante recente. E – veja só que ironia – acaba reproduzindo no Islã xiita a estrutura do clero cristão. “Os líderes do Irã já dotaram seu país dos equivalentes de um pontificado, de um colégio de cardeais, um conselho de bispos e, principalmente, de uma inquisição, coisas que eram todas alheias ao Islã”, diz o historiador britânico Bernard Lewis, da Universidade de Princeton, EUA. “É possível que acabem provocando uma Reforma.”

Assassinos: os avós dos terroristas
O martírio é uma noção fundamental entre as seitas xiitas. Mas nenhuma delas levou a ideia tão a sério quanto a Ordem dos Assassinos, que espalhou o terror na Pérsia e na Síria nos séculos XI e XII. Seus integrantes eliminavam gente graúda: monarcas, ministros, generais e religiosos – do bando rival, claro. “O inimigo era o sistema político, militar e religioso sunita. Os assassinatos eram planejados para aterrorizá-lo, enfraquecê-lo e, finalmente, derrubá-lo”, diz o historiador Bernard Lewis no livro “Os Assassinos”. Executar a vítima significava um ato de devoção e envolvia um belo ritual. Segundo os relatos do explorador Marco Polo, que esteve na Pérsia em 1273, os chefes da seita ofereciam haxixe aos jovens convocados para matar – daí o nome Haxaxin, que depois derivou para Assassinos. A droga lhes dava um gostinho antecipado das delícias do Paraíso.

É que nenhum deles esperava sair vivo da missão. “Depois de matar, os Assassinos não tentavam fugir nem cometiam suicídio. Eles esperavam morrer na mão dos inimigos”, diz Lewis. Sempre usavam a adaga em vez de veneno ou armas de arremesso, o que tornava a operação muito mais arriscada. Atacavam em mesquitas, mercados ou palácios, agiam sob absoluto sigilo e muitos se vestiam de mulher para garantir o sucesso da emboscada. O fundador da seita teria sido o persa Hassan i-Sabah, conhecido como Velho da Montanha. Ele teria recrutado os primeiros Assassinos depois de se converter ao ramo ismaelita do xiismo no século XI – época em que o Oriente Médio foi invadido pelos cruzados.

Disputa virou geopolítica
Atualmente, os sunitas representam cerca de 90% do Islã e os xiitas, 10%. A velha rixa é travada por governos cujos interesses vão além da tradição religiosa. “O que vemos hoje é um conflito geopolítico”, diz o escritor Reza Aslan, especialista em história do Islã. Para ele, há dois polos de influência no mundo islâmico: Arábia Saudita (sunita) e Irã (xiita). “Vemos diversos grupos fundamentalistas, como o sunita Al Qaeda, que acusa os xiitas de infiéis. Mas de onde vem a Al Qaeda? Da Arábia Saudita, que enxerga o Irã como a principal ameaça”, diz .

O conflito é alimentado com o dinheiro do petróleo. O Irã patrocina grupos terroristas xiitas, como o libanês Hezbollah. A monarquia saudita fomenta uma versão extremista sunita, o wahhabismo, ensinado em escolas e mesquitas ao redor do mundo. “O wahhabismo exerce uma influência tremenda sobre a diáspora muçulmana”, diz Lewis. “Em países não-islâmicos não existe controle sobre o que é ensinado nessas escolas. Há um ensino muito mais extremo em colégios muçulmanos da Europa e da América que na maioria dos países islâmicos.”

O Iraque virou palco perfeito para o embate entre os polos muçulmanos. Desde a retirada das tropas americanas do país, em dezembro, a violência sectária explodiu com atentados quase diários. A maioria xiita deseja vingar as atrocidades do ditador Saddam Hussein, um sunita. O Irã apoia as milícias xiitas. Os sauditas e a Al Qaeda atuam no campo rival. A dinâmica se repete pelo Oriente Médio. No Barein, por exemplo, a maioria xiita se rebela contra rei Hamad, que é sunita. Na Síria, principal aliada do Irã, a Primavera Árabe motivou uma rebelião contra o regime alauíta, da minoria xiita.

Segundo as Nações Unidas, os confrontos já produziram mais de 9 mil mortos no país. Isso não significa que o conflito seja mais violento hoje. Nos primeiros séculos do Islã, houve guerras massivas. “Nos séculos VII e VIII, os omíadas construíram um império sunita. E quem não fosse sunita era massacrado”, diz Aslan. “No século VIII, os abássidas assumiram o poder. Eles descendiam de Maomé através de Fátima (filha do Profeta e mulher de Ali). Eram xiitas. E seu império massacrou sunitas.”

FONTE: O Oriente Médio, Bernard Lewis, Jorge Zahar, 1996.
31 de out. de 2013 | By: Fabrício

Equiano e Baquaqua: relato de escravizados

“Não somente tem havido falhas no diálogo entre o mundo acadêmico e o público em geral, como existe uma surpreendente ignorância dentro mundo acadêmico sobre a natureza do tráfico. Existem poucos resumos coerentes na literatura recente sobre o tráfico de escravos tanto para a população quanto para a escola, e este insucesso em divulgar as recentes pesquisas acadêmicas fez com que a discussão sobre o tráfico se tornasse tão politizada e emocional que a maioria dos acadêmicos e intelectuais se recusa a compará-lo com qualquer coisa que se aproxime de uma análise racional”. (KLEIN, 2004, p. 17).

“Que aqueles indivíduos humanitários, que são a favor da escravidão, coloquem-se no lugar do escravo no porão barulhento de um navio negreiro, apenas por uma viagem da África a América, sem sequer experimentarem mais que isso dos horrores da escravidão; se não saírem abolicionistas convictos, então não tenho mais nada a dizer a favor da abolição”. Mahommah G. Baquaqua, 1854.

Neste texto tratarei do tráfico de escravos, o qual ao longo de quase quatro séculos movimentou a economia de várias nações na Europa, África, Américas e Ásia. Em especial o tráfico negreiro no Atlântico fora o responsável entre os anos de 1519 a 1867, de arrebatar mais de 11 milhões de vidas do continente africano, transportando, homens, mulheres e crianças, para a Europa, mas especialmente para as colônias européias nas Américas.

11 milhões é apenas uma parcela deste total, onde não se inclui aqui o número de escravos traficados através do Oceano Indico e por terra, através do deserto do Saara. Se somarmos estes números, chegaremos bem próximos ou até mesmo passaremos dos 20 milhões de almas levadas embora de suas terras, casas e famílias. Mas, nesse caso, em meio a este contingente monstruoso de vitimas do comércio de escravos africanos que perdurou ao longo da Idade Moderna e pelo século XIX, falarei neste texto, não sobre as perspectivas do tráfico em geral, mas sim da visão dos escravizados a respeito desta prática que atormentou a história da humanidade.

Assim, neste relato falarei da experiência de dois escravizados, os quais após conseguirem suas liberdades escreveram biografias relatando suas experiências como escravos no Novo Mundo. Dessa forma, abarcarei o século XVIII com os relatos de Olaudah Equiano e o século XIX com os relatos de Mohammah Garbo Baquaqua. 

Se você é uma pessoa de estômago fraco ou de grande sensibilidade, sugiro que não prossiga com a leitura, porque os relatos das atrocidades aqui mencionados foram reais.

Olaudah Equiano (1745-1797)


Olaudah Equiano nasceu em 1745 no vale de Essaka, provavelmente Isseke, perto de Orlu, na região de Nri-Awka/Issuama, nas terras dos ibos, hoje a atual Nigéria. Era o caçula de sete irmãos, seu pai era um homem importante da vila, sua família era abastada e influente, possuindo uma grande casa e vários escravos. A escravidão já era praticada na África desde épocas remotas assim como o fora em outros cantos do mundo. Porém a escravidão que Equiano se refere em sua infância era bem diferente da escravidão vista nas Américas e na Europa, a qual ele vivenciaria. Em África, os escravos entre alguns povos eram bem tratados, e eram considerados como membros da família.

“Seu pai era um homem importante, uma combinação de chefe de clã (okpala), homem de posses (ogaranya) e ancião respeitado (ndichie) e membro do conselho (ama mala) que tomava decisões por toda a aldeia”. (REDIKER, 2011, p. 120).

“Os parentes próximos e distantes de Equiano eram, como todas as famílias, organizados num clã patrilinear (umunne) dirigido por um chefe de família e, coletivamente, por um conselho de anciãos”. (REDIKER, 2011, p. 121).

Equiano dizia em sua autobiografia que sua sociedade vivia da coletividade, logo as terras eram de propriedade comum, e ao mesmo tempo tanto homens e mulheres trabalhavam juntos, possuindo algumas atividades especificas. Eles não utilizavam dinheiro, já que o mesmo era raro na região, viviam basicamente da agricultura e pecuária de subsistência, e os excedentes da produção comercializavam através do escambo com as aldeias e vilas vizinhas.

“Os costumes eram simples, poucos eram os luxos, mas eles tinham comida mais que o suficiente e, além disso, “não havia mendigos”.” (REDIKER, 2011, p. 121).

A terra era fértil e generosa, eles plantavam um tipo de inhame o qual era à base de sua alimentação, com o qual produziam a partir da farinha deste, o fufu. Cultivavam batata cará, bananas, pimentas, feijões, abóboras, milhos, melancias e outras frutas. Também cultivavam algodão e tabaco, criavam bois, cabras e galinhas. Fabricavam diversos tipos de objetos, ferramentas e outros produtos artesanais.

Equiano dizia que havia um grande respeito com a religião, onde realizava-se os cultos sagrados aos deuses e aos antepassados, eram celebrações muito importantes e deveriam serem seguidas a arrisca, sem nenhum atraso. Entre a sua sociedade, existia o chamado dibia, considerado o mensageiro entro o mundo dos mortos e o mundo dos vivos, eras às vezes também o sacerdote, feiticeiro, curandeiro e até mesmo conselheiro da aldeia. Era um homem muito respeitado e até temido.

“Os ibos acreditavam que a linha entre o mundo dos homens e dos espíritos, ou entre os vivos e os mortos, era fina e porosa. [...]. Alimentar o espírito por meio de sacrifícios (aja) era fundamental para a boa sorte. O dibia se comunicava diretamente com os espíritos, fazendo a ligação entre os dois mundos”. (REDIKER, 2011, p. 122).

Equiano também conta que seu povo era alegre, pacifico, que gostava de cantar, dançar e declamar poesia. “Somos quase uma nação de dançarinos, músicos e poetas”.

Mas, a vida de Equiano mudaria drasticamente quando este tinha apenas 11 anos de idade. Ele dizia que as crianças deviam evitar o máximo a falar com os estranhos, porque alguns desses poderiam ser traficantes de escravos, logo, existia a há vários séculos em vários cantos do continente a prática, de se raptar, homens, mulheres e crianças para se tornarem escravos. Assim, em alguns lugares, onde esta ameaça era maior, as pessoas andavam bem armadas e evitavam andar sozinhas. As crianças ficavam em casa ou sob a vigia de vários adultos. Mas, no caso de Equiano isso não viera a acontecer num certo dia.

Ele não explica por qual motivo, seus pais, irmãos e os escravos, o deixara sozinho com uma de suas irmãs em casa. Ele também não menciona o nome da irmã e a idade que tinha, mas pelo que parece deveria ser poucos anos mais velha que ele. Em seu relato, os dois ouviram o som de passos e vozes, quando perceberam, dois homens e uma mulher haviam pulado o muro de sua casa, invadiram a residência e os prenderam. “Num abrir e fechar de olhos nos pegaram”. Ele e sua irmã foram rapidamente retirados de casa e levados para a floresta, onde no cair da noite, os seqüestradores chegaram a um casebre no meio da mata onde passaram a noite.

Desse dia em diante, Equiano e sua irmã nunca mais voltariam a rever seus pais, irmãos, parentes e amigos. A dura jornada como escravizados havia-se iniciado. No dia seguinte, eles levantaram cedo e seguiram viagem por uma trilha na floresta, até emergirem numa estrada, lá Equiano disse que começou a gritar, pedindo ajuda para algumas pessoas que havia avistado. “Meus gritos serviram apenas para que eles me amarrassem com mais força, tapassem minha boca e me pusessem dentro de um saco grande. Taparam também a boca de minha irmã e amarram-lhe as mãos, e assim seguimos até sair das vistas daquela gente”.

Equiano conta também que a tristeza era tão grande que ele e sua irmã não tinham vontade de comer, mas os seqüestradores os forçavam a comer, forçando a comida goela abaixo, e até mesmo ameaçando bater-lhes para que comessem. Se não estivessem saudáveis não seriam vendidos. “O único consolo que tínhamos era passar toda a noite nos braços um do outro, banhar um ao outro com as nossas lágrimas”.

A situação iria ficar ainda mais triste. Dias depois, quando os dois se encontravam no lugar que seriam vendidos, lá Equiano fora separado de sua irmã. “Ela fora arrancada de mim e imediatamente levada embora, e eu fiquei numa perturbação indescritível”. Ele passou os dias seguintes chorando e comendo a força, já não tinha mais apetite e forças para comer.

Equiano fora posteriormente vendido a um ferreiro o qual era chefe de um clã. Ele passou cerca de um mês vivendo com a família do ferreiro, mas era bem tratado, já que como ele havia dito anteriormente, os escravos eram bem tratados e considerados como da família. Em meio a este período, pensou várias vezes em fugir, mas não sabia qual era o caminho de casa. Um dia ouviu alguém dizer que se tentasse ir embora, iriam pegá-lo novamente, ou ele acabaria se perdendo na floresta, já que sua vila ficava muito distante dali. Equiano escreve em seu relato que o pânico tomou o seu coração naquele momento. Mesmo tendo a liberdade de perambular pela vila, não poderia voltar para casa.

Posteriormente o seu dono o vendeu para um mercador de escravos. Equiano iniciaria sua jornada para a costa, para o mar. “Dessa vez fui levado rumo à esquerda do sol nascente, através de terríveis desertos e matas sombrias, e em meio a medonhos rugidos de feras”.

“Enquanto continuava sua jornada rumo ao litoral, Equiano tornou a ver sua irmã. A julgar pelo que ele escreveu aqui e em outro ponto de sua biografia, aquele foi um dos momentos mais emocionantes de sua vida: “Assim que ela me viu, soltou um grito agudo e correu para meus braços – eu fiquei totalmente sem ação: nem um dos dois conseguia falar; ficamos por muito tempo abraçados, sem conseguir fazer nada a não ser chorar”. (REDIKER, 2011, p. 125).

Mas o momento de felicidade logo acabaria. O mercador ficara tão comovido, que havia deixado que os dois passassem a noite juntos, mas na manhã seguinte, como o próprio se refere na “manhã fatal”, ele fora novamente separado de sua irmã, e dessa vez fora a última vez que ele a viria. “Agora eu estava ainda mais infeliz, se é que era possível, do que antes”. Equiano disse que nunca mais voltou a ter noticias de sua irmã e de sua família, mesmo tendo se passado vários anos. Ele disse também que a imagem de sua irmã sendo levada embora a segunda vez, ficou impregnada em suas lembranças e em seu coração, pelo resto da vida.

Ele continuou a seguir viagem e fora vendido e comprado várias vezes, até que fora comprado por um rico comerciante da cidade de Tinmah. Ele descreve a cidade como sendo grande e bela, o que o impressionou já que nunca havia ido numa cidade antes. Lá ele disse que comeu pela primeira vez coco e cana-de-açúcar, e viu o tão cobiçado dinheiro, o qual chamou de “core” (akori).

Equiano passou pouco tempo como escravo do comerciante, logo fora comprado por uma velha e rica viúva. O motivo se deu pelo fato de que Equiano havia se tornado um grande amigo do filho da viúva o qual tinha sua idade. Em seu relato ele passou dois meses agradáveis ao lado daquelas pessoas, eram tão bem tratado e respeitado que não achava que fosse mais um escravo. Porém de alguma forma, o qual ele não menciona, ele fora vendido novamente para os mercadores de escravo e voltou a seguir viagem.

“Até aquela altura, todas as pessoas com quem Equiano deparara em sua jornada lhe eram culturalmente familiares. De modo geral, elas tinham as mesmas “maneiras, costumes e língua”; eram ou haveriam de se tornar ibos”. (REDIKER, 2011, p. 125).

Mas a realidade e o mundo que Equiano conhecia iriam mudar drasticamente. Sua viagem como escravo o levaria até o mar, lá ele conheceria os temidos homens brancos. Ao longo de sua viagem cruzou várias terras e conheceu distintos povos, ficou fascinado com alguns e chocados com outros, devidos a sua barbárie, falta de decência e falta de respeito com os deuses. Após cerca de seis ou sete meses ele chegou ao litoral, provavelmente ao porto de Bonny próximo ao rio Bonny o qual lhe havia causado espanto por ser um rio muito largo e onde várias canoas o cruzavam, e pessoas viviam em barcos.

Ele aguardou por alguns dias no porto até ser vendido para um navio inglês. De lá ele seguiu com outras dezenas de escravos por canoas até abordo do tal navio. Equiano diz que ficou maravilhado com a imensidão do mar e espantando com aquele estranho navio. “Eu nunca tinha ouvido falar de homens brancos, nem de europeus, nem do mar”.

Ao chegar próximo ao navio ele avistou os tais homens brancos. “Homens brancos de olhares horríveis, rostos vermelhos e cabelos compridos”. Ele dizia que estes homens se vestiam com roupas estranhas e eram fedorentos. Posteriormente ele descobriria que eles não tinham o costume de tomar banho regularmente, assim como o seu povo fazia.
Quando subiu a bordo ficou reunido com vários outros escravos, vindos de diferentes terras, sendo observados por aqueles estranhos homens.

“Além dos ibos, muito provavelmente estariam a bordo também nupes, igalas, idomas, tivs e agatus, do norte da aldeia de Equiano; os ijos do sudeste; e, do leste, toda uma hoste: ibibios, anangs, efiques (todos falantes de efique), ododops, ekois, eajaghams, ekrikuks, umons e enyongs”. (REDIKER, 2011, p. 127).

Equiano disse que alguns deles sacolejaram o seu corpo, pediram para que mostrasse os dentes e observaram para ver se ele não tinha nenhum “defeito”. Equiano como os de mais tremia de medo, em suas faces emanava um semblante de profundo pesar. Porém o jovem menino sofreria seu primeiro grande susto a bordo do navio negreiro.

Após ser “conferido” pelos europeus se estava tudo bem com ele, Equiano notou um grande caldeirão no convés e alguns negros próximos a ele, logo um terrível pensamento lhe tomou, aqueles homens brancos deveriam ser canibais. Ele disse que ficou tão chocado que desmaiou naquele momento.

“Quando Equiano voltou a si, ficou apavorado, mas logo haveria de descobrir que o desfile de horrores mal começara. Foi levado para o convés inferior, onde um cheiro nauseabundo logo o fez sentir-se mal. Quando dois membros da tripulação lhe ofereceram comida, ele esboçou uma fraca recusa. Eles o arrastaram novamente para o convés superior, amarraram-no molinete e o chicotearam. Quando a dor percorreu-lhe o pequeno corpo, seu primeiro pensamento foi fugir pulando na água por sobre a amurada do navio, ainda que não soubesse nadar. E então descobriu que o navio negreiro era equipado com redes justamente para evitar esse tipo de resistência desesperada”. (REDIKER, 2011, p. 119).

Mesmo equipado com redes, Equiano relatou que três escravos conseguiram escapar das redes e caírem no mar, dois acabaram se afogando, cometendo suicídio, e o terceiro fora recapturado e barbaramente castigado. Em seu relato abordo do navio negreiro, ele descreve o navio com fascínio e terror; fascínio porque ele não sabia ao certo com aquele grande barco se movimentava no mar, para ele, os homens brancos eram maus espíritos e possuíam poderes mágicos. Ele também conta, que não entendia como a âncora podia fazer o navio parar, como o navio mudava de direção e como os ingleses faziam para se localizar naquela imensidão azul. Tal ideia de magia seria refutada, quando num dia Equiano observava um dos marujos utilizar um estranho objeto, era uma luneta. O marujo notando que a criança estava curiosa o deixou olhar pela luneta, quando Equiano percebeu que aquele estranho objeto aumentava as coisas, disse para o homem que aquilo era magia. Os marinheiros riram da ingenuidade do garoto.

Mas, nem tudo fora fascínio do navio, ele relatou muitas atrocidades que viu e ouviu durante sua viagem a bordo do navio negreiro. Equiano disse que viu muitos homens e mulheres serem chicoteados por terem desobedecido alguma ordem; disse que alguns escravos foram espancados; marcados a ferro como se fossem animais; algumas mulheres foram estupradas; eles recebiam pouca comida e pouca água; ficavam acorrentados no convés inferior, o pior lugar do navio. Sobre o convés inferior ou porão, ele conta que o lugar era apertado, escuro, insalubre, fedorento, abafado, o teto era baixo, assim os escravos tinha que ficar agachados ou deitados, sendo que ficavam acorrentados pelos pés, mãos e às vezes pelo pescoço, como se fossem cães.

“Os cativos ficavam apinhados em espaços fechados, cada espaço mais ou menos igual ao de um cadáver num caixão. As “correntes esfolavam” a carne macia dos pulsos, tornozelos e pescoços. Os cativos sofriam com o calor terrível, a pouca ventilação, o “suor abundante” e o enjoo  O mau cheiro, que já era “repugnante”, se tornou “absolutamente pestilencial”, uma vez que o suor, o vômito, o sangue e os “vasos das necessidades”, cheios de excrementos, “por pouco não os sufocavam””. (REDIKER, 2011, p. 129-130).


Equiano em seu relato disse que naquele momento preferiu esta na pele do mais reles escravo de sua terra ou que a morte o levasse. Porém mesmo tendo sido chicoteado várias vezes ao longo da viagem e ficado doente, principalmente devido ao enjôo, Equiano disse que tivera a sorte de conhecer algumas mulheres que passaram a cuidar dele, que lhe davam banho e carinho, como se fosse seu próprio filho. Pelo fato de esta doente passava parte do dia no convés superior, mesmo assim a vida num navio negreiro não era nada agradável para um escravo. Equiano chegou a pensar em tentar se jogar no mar e cometer suicídio, já que não sabia nadar e mesmo que soubesse seria em vão. Ele havia perdido sua liberdade e sua própria identidade. A bordo do navio negreiro, ele passou a ser chamado pela tripulação pelo nome de Michael (Miguel em inglês). Ele não gostava de ser chamado assim, mas nada podia fazer naquele momento.

Ele aproveitou os momentos que ficava solto no convés para observar o trabalho dos marinheiros, isso lhe seria muito útil posteriormente, já que o próprio viria a trabalhar como marinheiro por muitos anos até conseguir comprar sua liberdade.  

A viagem através da Passagem do Meio nome pelo qual alguns se referiam à travessia do Atlântico durou mais de quarenta dias. Equiano deixou o porto de Bonny na África e fora levado até a ilha de Barbados no Caribe. Ele conta que quando os ingleses avistaram terra, ficaram felizes e comemoravam a chegada, porém para os escravos não havia em parte felicidade alguma em ter-se chegado naquela estranha e distante terra. Abordo do navio, Equiano descobriu que os homens brancos não eram canibais como ele supunha que fossem, porém, quando ele chegasse em terra seria vendido novamente como escravo, e passaria a trabalhar para eles. Ele pensou naquele momento que trabalhar seria melhor do que ser devorado, mas logo repensaria esta sua afirmação.

“Diante deles estava Barbados, epicentro da histórica revolução do açúcar, joia da coroa do sistema colonial britânico, e uma das sociedades escravagistas desenvolvidas de modo mais cabal – e, portanto mais brutal – que se podia encontrar em todo o mundo”. (REDIKER, 2011, p. 131).

Já em terra, os escravos foram postos a venda. Equiano disse que foram separados por idade, sexo e altura. Os compradores os examinavam como se fossem meros objetos. “eles pediam para que pulássemos”; “e apontaram para a terra, querendo dizer que iríamos para lá”.

Enquanto esperava ser vendido, ele ficou espantado com tudo o que havia visto naquela ilha. Uma coisa que lhe chamou a atenção foram os homens montados a cavalo. Ele ficou fascinado com aquilo, já que em sua terra não havia animais como aqueles, nos quais se podiam montar. Eles não montavam nos bois.

Dias se passaram e as vendas continuaram, Equiano diz em seu relato, que viu irmãos, irmãs, parentes e amigos ser separados, isso o fizera lembrar-se de sua irmã. De qualquer forma, muitos dos amigos que ele fizera nestes dias de viagem, foram todos embora, levados por distintos donos para vários lugares. Ele e alguns escravos não acabaram sendo vendidos na ilha, disseram-lhe que era muito pequeno e magro, logo conotava ser fraco de saúde. Assim, alguns dias depois, eles foram vendidos para um comerciante de escravos, então foram levados até uma chalupa, possivelmente o navioNancy do capitão Richard Willis. O navio seguiria viagem para o rio York, na colônia inglesa da Virginia (futuramente estado dos Estados Unidos).

“Comparado com o navio negreiro, o número de escravos a bordo agora era muito menor, o clima menos tenso e violento, e a comida era melhor, pois o capitão pretendia engordá-los para vendê-los mais ao norte. Equiano escreveu: “Naquela travessia fomos mais bem tratados que quando vínhamos da África, e nos davam bastante arroz e carne de porco gorda”. (REDIKER, 2011, p. 134).

A bordo da chalupa, Equiano recebera um segundo nome, passando a ser chamado de Jacob (Thiago em latim). Ao chegar à Virginia ele e seus companheiros foram vendidos, mas para seu azar, alguns destes foram vendidos em lotes, para irem trabalhar nas fazendas, Equiano fora vendido sozinho. “Eu ficava o tempo todo sofrendo, me lamentando e, mais do que qualquer outra coisa desejando a morte”.

Equiano passou alguns meses na Virginia como escravo de distintos patrões, até que fora comprado por um capitão da marinha mercante, chamado Michael Henry Pascal. O capitão lhe dissera que iria dá-lo de presente a uma pessoa na Inglaterra. Assim, o garoto fora levado a bordo do navioIndustrious Bee, lá ele passou a ajudar os marujos, e a ser bem alimentado e tratado. Fora abordo deste navio que Equiano começou a repensar sua ideia sobre os homens brancos, os quais ele os via como todos sendo bárbaros e cruéis. Nessa viagem ele conhecera um rapaz de quinze anos, chamado Richard Baker.

“Filho de um senhor de escravos (sendo ele próprio dono de escravos), instruído, de “temperamento muito amável” e com uma mentalidade “acima de preconceitos”, Baker ajudou o menino africano, que contou “Ele se mostrou muito afetuoso e atencioso para comigo, e em troca passei a dedicar-lhe grande afeto”. Os dois se tornaram inseparáveis, e Baker traduzia para Equiano e lhe ensinava muitas coisas úteis”. (REDIKER, 2011, p. 135).

Abordo do Industrious Bee, ele recebeu o quarto e último nome pelo qual ficaria conhecido. A tripulação passou a chamá-lo de Gustavus Vassa. Como ele aponta em sua biografia, não gostava de ser chamado por esse nome, mas curiosamente preferia ser chamado de Jacob, contudo o mesmo não explica o porquê dessa preferência. De fato, Equiano só voltou a assumir seu nome próprio quando se tornou livre, passando a ser chamado de Olaudah Equiano, embora fosse mais conhecido na época como Gustavus Vassa.

Chegando à Inglaterra, ele fora enviado para a casa da irmã do capitão Pascal, lá a senhora lhe ensinou a ler e a escrever em inglês e no ano de 1759, Equiano fora batizado e convertido ao anglicanismo na Igreja St. Margaret. Equiano se tornaria um cristão devoto.

Ele passou os anos seguintes trabalhando para outros proprietários, já que fora vendido mais algumas vezes. Nesse caso, trabalhava como marinheiro, carregador, comerciante e exercia outras atividades, tanto na Inglaterra como nas colônias britânicas. Em 1765, seu dono Robert King permitiu que ele pudesse comprar sua alforria, assim ele se tornou um escravo livre.

Após 1776 com a Independência dos Estados Unidos e os confrontos entre a Inglaterra e a recém pátria fundada que perduraria até a década de 80, Equiano aproveitou para ingressar nos movimentos abolicionistas e de antitráfico, contando com o apoio principalmente dos quakers americanos, defensores fervorosos dos preceitos protestantistas e contra a escravidão. Equiano passou a ser ajudado pelo seu antigo dono Robert King, o qual era um importante quaker da Filadélfia, agora estado americano, e assim começou a conhecer outras pessoas que compartilhavam da mesma ideia, entre as quais o político inglês William Wilberforce (1759-1833).

William Wilberforce

Equiano passou os próximos vinte anos de sua vida, participando do movimento abolicionista e lutando para que fosse decretado um fim no tráfico e na escravidão. Wilberforce se tornou adepto deste pensamento e a partir de 1787, passou a defender os direitos dos escravizados, e a lutar pelo fim do tráfico.

Em 1789, Equiano publicou sua autobiografia, intitulada A Narrativa Interessante de Olaudah Equiano ou Gustavus Vassa, o Africano. Seu livro logo se tornou um Best-seller, vendo mais de 50 mil exemplares na Inglaterra, além de contar com várias edições. A sociedade inglesa ficou chocada e surpresa com a história deste homem, já que até então grande parte do povo inglês desconhecia a realidade na África, do tráfico e da escravidão. Seu livro fora uma das primeiras obras de escritores africanos a serem publicadas na Grã-Bretanha e a primeira a fazer sucesso. Sua obra fora considerada como a maior representação literária contra a escravidão no século XVIII.

Capa da autobiografia de Olaudah Equiano, 1789

Em 1792 ele se casou com Susana Cullen, e juntos tiveram duas filhas, Ana Maria Vassa Joanna Vassa. Sua esposa veio a falecer em 1796, e no ano seguinte Equiano veio a falecer em 31 de março aos 52 anos. Contudo as causas de sua morte ainda não são bem explicadas. Sua filha Ana Maria morreu aos quatro anos, restando apenas Joanna, a qual se casou e viveu vários anos.

Equiano não conseguiu viver o suficiente para ver um de seus sonhos se realizar, o fim do tráfico. Depois de vinte anos de embates, Wilberforce, e outros políticos, membros da Igreja Anglicana, e membros da alta sociedade, conseguiram derrotar a oposição em 1806, e no ano de 1807 fora aprovada a lei que punha fim ao tráfico de escravos no Reino Unido.

A partir de 1810, a Inglaterra passou a levar esta imposição para as outras nações que praticavam o tráfico, mesmo assim este permaneceu até o final do século em diferentes partes do mundo.


Mahommah Garbo Baquaqua (1824?-1857?)


Diferente de Equiano, Baquaqua já era adulto quando fora capturado como escravo e enviado para o Novo Mundo. Ele conta que nasceu no reino de Zoogoo na África Central. Por volta de seus vinte anos, se tornou guarda-costas de um governante local. Baquaqua disse que fora traído e capturado por pessoas que tinham inveja dele, por sua posição que havia assumido perante o governante, mesmo sendo um guarda-costas. Assim, ele por volta de 1845, fora vendido como escravo para mercadores.

Ele acabou chegando à cidade deGra-fe, lá conheceu os primeiros homens brancos. Ele relata que ficou na casa de um destes homens, e fora servido por um escravo, o qual descobrira que era um conterrâneo seu. Ele se chamava Woo-roo, e há dois anos havia sido capturado e levado embora de Zoogoo. O conterrâneo o reconheceu devido a seu corte de cabelo.

“Talvez caiba notar aqui que, na África, as nações das distintas partes do território têm seus modos diferentes de cortar o cabelo e são conhecidas, por essa marca, a que parte do território pertencem. Em Zoogoo, o cabelo de ambos os lados da cabeça é raspado e, em cima da cabeça, da testa até atrás, deixa-se o cabelo crescer em três mechas redondas que ficam bem compridas mantendo-se os espaços entre eles raspados rente à cabeça. Para alguém que é familiarizado com os diferentes cortes, não há dificuldade em reconhecer a que lugar um homem pertence”. (BAQUAQUA).

De Gra-fe, ele voltou a seguir viagem com os mercadores de escravos através de um longo rio o qual não especifica seu nome. Ele seguiu por este rio em direção ao mar, a onde seria vendido para comerciantes portugueses.

“Estávamos há duas noites e um dia nesse rio, quando chegamos a um lugar muito bonito, cujo nome não me lembro. Não ficamos por ali por muito tempo, tão logo os escravos foram reunidos e o navio estava pronto para velejar, fizemo-nos ao mar. Enquanto estivemos nesse lugar, os escravos foram enjaulados, coloram-nos de costas para a fogueira e deram ordens para não olharmos à nossa volta. Para se assegurarem de nossa obediência, um homem se postou à nossa frente com um chicote na mão pronto para açoitar o primeiro que marcava como as tampas de barril ou a qualquer outro bem ou mercadoria inanimada”.  (BAQUAQUA).

Enquanto estavam sendo levados ao longo da praia em direção aos barcos que os conduziriam ao navio, Baquaqua disse que naquele momento desejou que a terra se abri-se e a engolisse. Ele já havia ouvido falar de como era a escravidão imposta pelos homens brancos, e já estava ciente do terror que era.

Baquaqua relata que ele e os de mais escravos foram acorrentados pelas mãos, pés e pescoços e conduzidos em barcos até o navio negreiro. Para ele aquele navio deveria ser uma espécie de “templo” móvel dos europeus, onde os escravos seriam massacrados ou sacrificados ao Deus deles. Baquaqua era muçulmano, daí seu nome ser árabe, e ser um pouco avesso ao cristianismo. Embora que essa aversão não se devesse ao tráfico em si, já que os muçulmanos também o praticavam, mas sim na ideologia religiosa. Baquaqua quando chegasse ao Novo Mundo, seria batizado e forçado a seguir o cristianismo.

“Escravos vindos de todas as partes do território estavam ali e foram embarcados. O primeiro barco alcançou o navio em segurança, apesar do vento forte e do mar agitado; o próximo a se aventurar, porém, emborcou e todos se afogaram, com exceção de um homem. Ao todo, trinta pessoas morreram”. (BAQUAQUA).

Abordo do navio negreiro, Baquaqua relatou:

“Fomos arremessados, nus, porão adentro, os homens apinhados de lado e as mulheres do outro. O porão era tão baixo que não podíamos ficar em pé, éramos obrigados a nos agachar ou a sentar no chão. Noite e dia eram iguais para nós, o sono nos sendo negado devido ao confinamento de nossos corpos. Ficamos desesperados com o sofrimento e a fadiga”.

“A única comida que tivemos durante a viagem foi milho velho cozido. Não posso dizer quanto tempo ficamos confinados assim, mas pareceu ser muito tempo. Sofríamos muito por falta de água, que nos era negada na medida das necessidades. Um quartilho por dia era tudo que nos permitiam e nada mais”.

“Quando qualquer um de nós se tornava rebelde, sua carne era cortada com uma faca e o corte esfregado com pimenta e vinagre para torná-lo pacifico (!)”.

“Alguns foram jogados ao mar antes que o último suspiro exalasse de seus corpos quando supunham que alguém não iria sobreviver, eram assim que se livravam dele”.

Assista a seguir um trecho do filme AMISTAD, de 1997, que retrata como era feita a captura e o transporte (em meio as péssimas condições de vida que existiam nos navios negreiros), até a chegada à América.


Baquaqua depois de cerca de 30 dias de viagem nestas péssimas condições, acabou chegando à província de Pernambuco no Império do Brasil por volta de 1845. Cinco anos depois, o imperador D. Pedro II, declararia o fim do tráfico de escravos no Atlântico.

“Quando desembarquei, senti-me grato à Providência por ter me permitido respirar ar puro novamente, pensamento este que absorvia quase todos os outros”. (BAQUAQUA).

Baquaqua permaneceu em um mercado de escravos na costa por um ou dois dias, até se vendido para um mercador que por sua vez o vendera em um mercado na cidade do Recife. Lá um padeiro o comprou. Este vivia no interior, mas Baquaqua não especifica onde exatamente, ele apenas disse que não ficava distante de Pernambuco.

“Sua família era composta por ele, sua mulher, duas crianças e uma parente. Além de mim, ele tinha quatro escravos. Ele era católico, e fazia regularmente as orações com a família duas vezes por dia”.

O padeiro estava construindo uma casa na época, logo pusera Baquaqua e os outros escravos para trabalhar na construção. A casa seria feita de pedras, e as pedras ficavam numa distância considerável. Baquaqua dizia que as pedras eram tão pesadas, que era necessário dois ou três homens para ergue-lá e a colocarem sobre sua cabeça. Ele relata que houve algumas vezes que não agüentou o peso e a largou ao chão. Seu dono o chamava de cachorro, e lhe dava algumas chicotadas para não mais repetir aquilo.

Terminada a construção da casa, Baquaqua passou a trabalhar como vendedor de pão. Era o responsável por vender o pão de porta em porta ou às vezes ficava na padaria mesmo. Mas quando não conseguia vender tudo, às vezes era chicoteado para aprender a vender tudo na próxima vez. Ele também relata que os outros escravos eram dados a indisciplina e eram beberrões. Gastavam o pouco dinheiro que conseguiam comprando aguardente. Logo o próprio Baquaqua acabou se juntando aos seus amigos.

“Assim, um dia, quando me mandaram vender pão como de costume, vendi apenas uma pequena quantia e, com o dinheiro que recebi comprei uísque e bebi a vontade, voltando para casa bastante embriagado. Quando fui fazer as contas da diária, meu senhor pegou minha cesta e, descobrindo o estado em que as coisas estavam, fui muito severamente espancado. Eu disse a ele que não deveria mais me açoitar e fiquei com tanta raiva que me veio a ideia de matá-lo e, em seguida, suicidar-me”. (BAQUAQUA).

Baquaqua passou a entrar no vicio do álcool por que considerava uma forma de atenuar a dura e miserável vida de escravo que levava. Quando era muçulmano, não podia beber porque a religião islâmica proíbe os fieis o consumo de bebidas alcoólicas, mas agora que era cristão, isso não era proibido totalmente. (no cristianismo condena-se a embriaguez como um estado derivado do ato do pecado da gula, nesse caso, beber em demasia).

Após ter sido espancado pelo seu senhor, ele fora liberado. Ainda com dor e pulsante de raiva, Baquaqua disse que naquele momento tentou cometer suicídio. Ele correu até o rio ali perto e se jogou em suas águas, porém algumas pessoas que estavam num barco viram que ele se afogava e o salvaram. Depois disso ele não tentou se afogar novamente.

Depois de toda esta rebeldia o padeiro o levou para a cidade e o vendeu para um mercador de escravo. Baquaqua passou alguns dias em posse desse mercador até ser vendido para um fazendeiro, o qual ele dizia ser muito cruel. No dia que fora comprado, o fazendeiro também comprou duas mulheres, sendo uma jovem e bonita, essa serviria como concubina para o fazendeiro. Ele passou algumas semanas trabalhando para o fazendeiro até que o mesmo o vendeu para um navio negreiro que seguia para o Rio de Janeiro. Lá ele passou duas semanas, até ser vendido a um capitão de navio.

Baquaqua relata que este capitão até fora mais condizente com ele, e não o maltratava tanto, porém sua esposa, era uma mulher cruel. Enquanto trabalhava no navio logo fora reconhecido por seu esforço e fora promovido a segundo camareiro. Pouco tempo depois ele se tornou o primeiro camareiro.

“Fiz tudo que estava em meu alcance para agradar meu senhor, o capitão, e ele, por sua vez, depositou confiança em mim”. (BAQUAQUA)

Ele passou um bom tempo trabalhando naquele navio. Até que um dia, o seu capitão fora incumbido por um mercador inglês de transportar em seu navio algumas sacas de café para Nova Iorque. Baquaqua e outros escravos seguiriam viagem para os Estados Unidos.

“Tínhamos aprendido que em Nova Iorque não havia escravidão, que era um país livre e que, uma vez ali, nada tínhamos a temer de nossos cruéis senhores e estávamos muito ansiosos para chegar lá”. (BAQUAQUA).

Baquaqua na época desconhecia o fato de que nos Estados Unidos havia escravidão, mas esta era mais intensa e agressiva nos estados do sul. Em Nova Iorque havia escravidão, mas de forma mais moderada. A abolição nos Estados Unidos fora apenas decretada em 1865 pelo presidente Abraham Lincoln, após o término da Guerra Civil Americana (1861-1865).

Abordo do navio inglês ele conheceu um marinheiro que falava um pouco de inglês. A primeira palavra em inglês que Baquaqua e seus amigos aprenderam fora free (livre). À medida que atravessavam o Atlântico rumo ao norte, Baquaqua dizia que a cada dia que se passava que estava chegando mais próximo de Nova Iorque, já se sentia um homem livre.

“Aquela foi à época mais feliz da minha vida, mesmo agora meu coração palpita com jubiloso deleite quando penso naquela viagem, e creio que Deus todo misericordioso tudo ordenou para o meu bem; como me sentia grato”. (BAQUAQUA).

Mas antes de Baquaqua chegar em seu destino este ainda viria a sofrer durante a viagem. Num dia de vento forte, Baquaqua acabou não ajudando de forma correta os outros escravos, isso enfureceu o capitão do navio o qual o chicoteou severamente. Naquele momento ele disse para que o capitão o matasse de vez, mas o capitão não fizera isso. Baquaqua disse que não iria implorar por misericórdia e assim apanhou severamente. Ele conta que suas costas e braços ficaram com marcas profundas, dilacerações causadas pela surra que levou. “embora estivesse machucado e despedaçado, meu coração não estava subjugado”.

Dias depois eles chegaram ao porto de Nova Iorque, em seu relato ele conta que fora bem recebido pelos americanos. Depois de alguns dias trabalhando, Baquaqua fez menção em dizer ao seu dono que não queria voltar mais ao Brasil, que ficaria ali e seria um homem livre. O capitão indignado com ele, ordenou que três escravos o capturassem, e assim Baquaqua passou alguns dias preso no navio, até que num dia fora solto, e o capitão concordou em lhe conceder a liberdade. Baquaqua desceu do navio alegre, mas fora capturado por um guarda do porto, o qual achara que ele tentava fugir. Ele passou uma noite trancafiado na prisão, até que o seu dono fora libertá-lo e o levou de volta ao navio. Isso havia sido no sábado e na segunda-feira, a liberdade chegou.

Baquaqua conta que três carruagens pararam no porto e homens bem vestidos subiram a bordo do navio, lá estes obrigaram o capitão a baixa a bandeira e a libertar os escravos que trazia consigo, o capitão relutou em aceitar tais condições, mas acabou concordando.

“Fomos posteriormente, levados em suas carruagens, acompanhados pelo capitão, a um prédio muito bonito com um pórtico esplêndido de mármore, era circundada por uma elegante grade de ferro, tendo portões em diversos lugares, ornamentada ao redor com árvores e arbustos de vários tipos”. (BAQUAQUA).

Tal lugar era a prefeitura de Nova Iorque, lá eles foram conduzidos até a presença do cônsul do Brasil. O cônsul lhes questionou se queriam voltar para o Brasil, uma escrava disse que queria voltar, Baquaqua e outros disseram que não iriam voltar. Após várias perguntas, os escravos foram conduzidos para alojamentos que mais pareciam uma prisão. Baquaqua disse que temia que o cônsul não concordasse com eles e os levaria a força de volta para o Brasil.

Porém depois de algumas noites, alguém acabou libertando os escravos, eles fugiram e seguiram viagem para a cidade de Boston em Massachussetts. Baquaqua não diz o nome destas pessoas, mas diz que eram amigos interessados em libertá-los. Ele permaneceu cerca de um mês em Boston, até que ganhou a possibilidade de viajar mais uma vez, ofereceram a oportunidade de ir para a Inglaterra ou para o Haiti. Baquaqua escolheu ir para o Haiti, pois acreditava que o clima de lá fosse parecido com o da sua terra.

No Haiti ele residiu por dois anos na cidade de Porto Príncipe, já sendo um homem livre. Lá ele passou a ser protegido e a trabalhar para a Sociedade Missionária Batista Livre. Baquaqua fora educado para se tornar um missionário cristão e possivelmente viajar para a África para converter mais devotos. Contudo ele não se tornou missionário e no ano seguinte em 1849, voltou para Nova Iorque onde ingressou no Colégio Central de Nova York. Ele permaneceu no colégio até o ano de 1853, mas não se sabe se chegou a se formar.

Entre 1853 e 1854 ele se mudou para o Canadá, lá conheceuSamuel Moore, o qual se interessou por sua história e decidiu escrever sua biografia. Pelo fato de não saber falar francês e inglês fluentemente, ele narrou a maior parte de sua história em português. Assim, Moore a traduziu e a publicou em 1854, sob o titulo de A Biografia de Mahommah G. Baquaqua, um nativo de Zoogoo, do interior da África.

A obra fora publicada em Detroit em língua inglesa, logo se tornou um livro conhecido, mas não fizera tanto impacto como fora o livro de Equiano, já que na época de Baquaqua a escravidão e o tráfico nos estados do norte dos Estados Unidos e no Canadá praticamente não existiam.

Depois disso ele viajou para a Inglaterra em 1855, e de lá não se conhece mais nada a respeito de sua vida. Acredita-se que tenha morrido em 1857, porém ainda é uma data questionada.

NOTA: Equiano é retratado no filme Jornada pela Liberdade (Amazing Grace), de 2006. No filme foca-se a atuação de William Wilberforce na luta para se aprovar uma lei pondo fim ao tráfico no Reino Unido.

Referências:
REDIKER, Marcus. O navio negreiro: uma história humana. Tradução de Luciano Vieria Machado, São Paulo, Companhia das Letras, 2011. (Capitulo 4: Olaudah Equiano: espanto e terror).

LARA, Sílvia H. (Apresentação). Biografia de Mahommah G. Baquaqua. Revista Brasileira de História. São Paulo. V. 8, n. 16, mar./ago., 1988, p. 269-283.

KLEIN, Herbert. A África na época do tráfico de escravos no Atlântico. In: _____________. O tráfico de escravos no Atlântico: novas abordagens para as Américas. Tradução e Revisão Francisco A. M. Duarte, Elsie Ortega Rossi, José Tadeu de Sales, Mariane Banks. Ribeirão Preto: FUNPEC, 2004, p. 9-21; p. 47-73.