29 de mai. de 2013 | By: Fabrício

Josué de Castro (1908-1973)


Josué Apolônio de Castro (Recife5 de setembro de 1908 - Paris24 de setembro de 1973), mais conhecido como Josué de Castro, foi um influente médico, nutrólogo, professor, geógrafo, cientista social, político, escritor, ativista brasileiro que dedicou sua vida ao combate à fome. Destacou-se no cenário brasileiro e internacional, não só pelos seus trabalhos ecológicos sobre o problema da fome no mundo, mas também no plano político em vários organismos internacionais. 

No período entre 1930 e 1960, emerge no cenário intelectual brasileiro a figura de Josué de Castro, um dos grandes nomes da Geografia brasileira. Seus estudos sobre a alimentação e a fome se tornaram referência para os debates sobre as relações entre agricultura e desenvolvimento, num contexto histórico conturbado, marcado pela II Guerra Mundial, pela Revolução Popular Chinesa, reconstrução da Europa e convulsões sociais diversas ao redor do mundo. Naquele contexto, a fome era um fenômeno central dentro dos desafios econômicos e sociais dos quais a humanidade não podia esquivar-se. Castro esboçou uma análise multifacetária do tema, abordado em diversas escalas espaciais e temporais, resultando num aprofundamento da reflexão sobre a realidade social brasileira e mundial. 

É inegável a importância do pensamento de Josué de Castro para geografia brasileira, visto que o autor participou muito próximo da eclosão da geografia institucionalizada, além de configurar como precursor da geografia crítica no país. A relevância dada por ele ao problema da fome, desde escalas locais até uma análise mundial, mostrou que a pobreza é resultado da forma com que as grandes potências econômicas se relacionaram e se relacionam, historicamente, com os países subjugados aos seus sistemas de dominação. Temas como colonialismo, imperialismo e armamentismo são tratados por Castro como sendo a base de um sistema econômico desigual, e diretamente relacionados com os problemas de carência alimentar e pobreza de diversas populações mundo afora. 

Sua proximidade com a Escola Francesa do Possibilismo permitiu à Castro o conhecimento teórico e metodológico sobre a ciência geográfica, porém seus estudos partiram da realidade social e econômica do seu país de origem. O traçado sombrio da fome apresentado mostra que não haverá paz no mundo enquanto a indústria da guerra prevalecer sobre o bem-estar dos povos, com desenvolvimento socioeconômico que permita a reprodução da vida em todas suas necessidades. Segundo ele,

“A própria fome será o condutor e a mola fundamental de uma revolução social
adequada para afastar progressivamente o mundo da beira desse abismo que
ameaça devorar a civilização, com avidez bem maior do que os oceanos
ameaçam engolir nossos solos.” (Castro, Geografia da Fome).

Para a Geografia, a maior contribuição de Castro foi o aperfeiçoamento do método de estudos regionais, no momento em que ele abriu caminho para o aparecimento de uma geografia voltada para a discussão dos problemas reais da sociedade, com fundamentos de prática política. Foi também em relação ao vasto conteúdo deixado em seus estudos sobre a fome, que permite aprofundar debates de diversas ciências utilizadas como base para os estudos geográficos.

Logo abaixo segue um documentário sobre sua vida e obra.



Uma das influências radicais do movimento manguebeat foi a obra do cientista Josué de Castro (1908-1973). Natural do Recife, citado explicitamente em letras (“Oh Josué, eu nunca vi tamanha desgraça /Quanto mais miséria tem, mais urubu ameaça”), depoimentos e manifestos do movimento, Josué pode ser considerado o primeiro mangueboy da história.

Foi de sua observação direta da relação entre homens e caranguejos nos manguezais da capital pernambucana que nasceria a descoberta de um drama crucial: o da fome. E a revelação de que, diferentemente do que imaginava a princípio, a fome não era um drama exclusivo de sua cidade, uma vez que medrava em toda parte.

A luta pela sobrevivência de homens e caranguejos nos mangues do Recife seria denominada, por Josué, de Ciclo do Caranguejo, que o manguebeat transformou na metáfora síntese de expressão de um povo. Explica o Ciclo do Caranguejo o próprio Josué: “Se a terra foi feita para o homem com tudo para bem servi-lo, o mangue foi feito essencialmente para o caranguejo. Tudo aí é, ou está para ser caranguejo, inclusive a lama e o homem que vive nela. (...) O que o organismo rejeita volta como detrito para a lama do mangue para virar caranguejo outra vez”. 

É nesse contexto que Chico Science (1966-1997), um dos principais colaboradores do movimento manguebeat em meados da década de 1990 e líder da banda Chico Science & Nação Zumbi, influenciado por Josué de Catro, compôs a música Da Lama ao Caos.  


Música: Da Lama ao Caos
Banda: Chico Science & Nação Zumbi

Posso sair daqui pra me organizar
Posso sair daqui pra desorganizar
Posso sair daqui pra me organizar
Posso sair daqui pra desorganizar

Da lama ao caos, do caos a lama
Um homem roubado nunca se engana
Da lama ao caos, do caos a lama
Um homem roubado nunca se engana

O sol queimou, queimou a lama do rio
Eu vi um Chié andando devagar
E um aratu pra  e pra 
E um caranguejo andando pro sul
Saiu do mangue, virou gabiru

Oh Josué eu nunca  tamanha desgraça
Quanto mais miséria tem, mais urubu ameaça
Peguei o balaio, fui na feira roubar tomate e cebola
Ia passando uma veia, pegou a minha cenoura
 minha veia, deixa a cenoura aqui
Com a barriga vazia não consigo dormir

E com o bucho mais cheio comecei a pensar
Que eu me organizando posso desorganizar
Que eu desorganizando posso me organizar
Que eu me organizando posso desorganizar

Da lama ao caos
Do caos à lama
Um homem roubado nunca se engana.


ACESSE O SITE: http://www.josuedecastro.com.br/

REFERÊNCIAS: 
CASTRO, Josué de. Geografia da Fome. 5a ed.  São Paulo: Brasiliense, 1957a.

__________. Ensaios de Geografia Humana.  São Paulo: Brasiliense, 1957b.

__________ .Ensaios de Biologia Social.  São Paulo: Brasiliense, 1957c.

__________.  Documentário do Nordeste.  São Paulo: Brasiliense, 1957d.

__________. Sete palmos de terra e um caixão: ensaio sobre o Nordeste, área explosiva. 2a ed. São Paulo: Brasiliense, 1967.

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