5 de jul. de 2013 | By: Fabrício

Revolução Constitucionalista de 1932

Antes de falar sobre a Revolução Constitucionalista de 1932, é preciso voltar alguns anos na história para buscar os embriões deste que foi um dos maiores movimentos armados da história do Brasil. Durante a República Velha (1889-1930), formou-se uma aliança entre os estados mais ricos e influentes do país na época, São Paulo e Minas Gerais, cujos representantes alternavam-se no posto da presidência da república naquilo que ficou conhecido como a "política do café com leite". Em 1930, porém, o presidente Washington Luís, representante dos paulistas, rompe a aliança com os mineiros e indica o governador de São Paulo Júlio Prestes como seu sucessor, que venceu as eleições. As oligarquias mineiras não aceitam o resultado e, por meio de um golpe de estado articulado com os estados do Rio Grande do Sul e da Paraíba, colocam Getúlio Vargas no poder. 

No discurso de posse, Getúlio disse que seu governo era provisório. Mas, assim que assumiu, nomeou interventores para governar os estados, indício de que ele pretendia se manter no poder. Tinha início o chamado Governo Provisório (1930-1934).

Ao chegar à presidência da república, Vargas tomou medidas para assumir o controle político do país. Entre suas primeiras providências destacam-se: a suspensão da Constituição republicana de 1891, o fechamento dos órgãos do Poder Legislativo (Congresso Nacional, Assembleias Legislativas e Câmaras Municipais) e a indicação de interventores militares para chefiar os governos estaduais.

Entregando o governo dos estados aos interventores, Getúlio pretendia desmontar a estrutura política da Primeira República (1889-1930), baseada no poder dos coronéis-fazendeiros. Os interventores acreditavam que em pouco tempo eliminariam a força dos grupos políticos tradicionais. Não eliminaram, mas conseguiram reduzir o poder dos representantes dos fazendeiros que sustentavam o regime deposto em 1930.

Voluntários paulistas da Revolução de 1932.

A oposição do estado paulista exigia a nomeação de um interventor civil e paulista. Cedendo às pressões, o presidente nomeou o interventor paulista Pedro de Toledo em substituição do tenente pernambucano João Alberto; mas essa medida não silenciou a oposição, que também exigia novas eleições e a convocação de uma Assembleia Constituinte (para formulação de uma nova Constituição para o país). Naquela altura, os ricos fazendeiros queriam novas eleições porque ainda controlavam o viciado sistema eleitoral.

No dia 23 de maio, estudantes da Faculdade São Francisco fizeram um comício, protestando sobre essa situação. Eles tentaram invadir o clube 3 de Outubro, onde se concentraram os membros da Liga Revolucionária que apoiava a ditadura. Foram recebidos à balas. Morreram nesse conflito, os jovens: Mário Martins de Almeida, Euclides Bueno Miragaia, Dráusio Marcondes de Sousa e Antônio Américo Camargo de Andrade, as iniciais de seus nomes (MMDC) foi o nome escolhido pelo movimento de oposição à ditadura, que começava a planejar a luta armada. Depois, foi sabido que mais um jovem morreu nesse confronto: Orlando de Oliveira Alvarenga, incluído posteriormente na lista. 

Cartão postal do MMDC.

Em 9 de julho de 1932, os paulistas, liderados pelo general Isidoro Dias Lopes e o civil Pedro de Toledo, pegaram em armas contra o governo federal no episódio conhecido como Revolução Constitucionalista. Mesmo sem a ajuda dos outros estados (houve poucos movimentos a favor no Rio Grande e no Mato Grosso, mas, foram logo destruídos), o povo paulista, mesmo perante a um movimento articulado pelas elites do estado, mobilizou-se e ajudou seus exércitos: houve mais de 200 mil voluntários, sendo 60 mil combatentes. 

Cartaz de convocação aos paulistas.

Quando se iniciou o levante, uma multidão saiu às ruas em apoio. As tropas paulistas são enviadas para os fronts em todo o estado. Porém, as tropas federais eram mais numerosas e bem mais equipadas. Foram usados aviões para bombardear cidades do interior paulista. Para os dias de hoje, o cenário deveria ser surreal: cidades, como Campinas e Lorena, sofrendo bombardeios aéreos; o porto de Santos bloqueado por navios de guerra; cidades dos vales do Paraíba e do Ribeira sofrendo ataques de artilharia e trincheiras repletas de soldados, cavadas nas divisas do estado. 

São Paulo estava praticamente sitiado e se via sem alternativa para conseguir armamentos. Com as fronteiras do estado fechadas, muitos voluntários levaram suas próprias armas pessoais e engenheiros da Escola Politécnica do estado (hoje POLI-USP) e do IPT (Instituto de Pesquisas Tecnológicas) passaram a desenvolver armamentos a serem produzidos pelo próprio estado para suprir as tropas. Entretanto, um navio que trazia do exterior armamento para os paulistas foi apreendido pela Marinha do Brasil. 

São Paulo criou uma moeda própria, que foi falsificada pela ditadura e distribuída na capital paulista para desestabilizar a economia do estado. O dinheiro paulista era lastreado pelo ouro arrecadado pela campanha Ouro Para o Bem de São Paulo, também chamado de Ouro Para a Vitória. Seus moradores passaram a doar ouro e joias, visando financiar as tropas paulistas. Em troca, ganhavam um anel de prata com as gravações: Pro São Paulo Fiant Exímia e Doei Ouro Para o Bem de São Paulo. Várias famílias ainda guardam os anéis de seus antepassados. 


As armas compradas nos EUA foram perdidas quando o navio que as transportava foi apreendido. Com muita falta de munição, os paulistas inventaram e usaram um aparelho que imitava o som das metralhadoras, a matraca. 

Matraca

O rádio teve grande participação e importância durante o conflito, ainda uma novidade na época. O locutor César Ladeira, da Rádio Record, se destacou, animando os combatentes. Houve muita propaganda e contrapropaganda ideológica por parte da ditadura, acusando São Paulo de estar nas mãos do fascismo italiano trazido pelos imigrantes. Os combatentes recrutados pela ditadura, brasileiros de outras regiões, eram informados que São Paulo queria se separar do Brasil. 

As mulheres eram convocadas para serem enfermeiras voluntárias paulistas.

Em meados de setembro a situação era precária. O interior do estado era invadido pelas tropas de Getúlio Vargas e a capital paulista estava ameaçada de ocupação. São Paulo tinha sua economia sufocada pelo bloqueio do porto de Santos e sobrevivia das contribuições em ouro feitas por seus cidadãos. As tropas paulistas desertavam cada vez mais. 

Vendo a derrota se aproximando e, com ela, a ocupação do estado, as tropas da Força Pública Paulista (atual Polícia Militar de São Paulo), foram as primeiras a se render, no final de setembro. Com isso, a liderança revolucionária paulista se rendeu em 2 de outubro de 1932, na cidade de Cruzeiro, para as forças chefiadas pelo general Pedro Aurélio de Góis Monteiro. 

Embora derrotados militarmente, os paulistas consideraram-se "moralmente" vitoriosos, pois em 16 de julho de 1934 uma Assembleia Constituinte votou e aprovou a terceira Constituição do Brasil - a principal reivindicação do movimento.

Conheça as principais mudanças introduzidas pela Constituição de 1934:
  • VOTO SECRETO: o que dificultava bastante a prática da corrupção eleitoral, tão comum nas décadas anteriores;
  • VOTO FEMININO: ganhando o direito de voto, as mulheres passaram a ter importância cada vez maior na política;
  • DIREITOS TRABALHISTAS: foram reconhecidos direitos como jornada de trabalho de 8 horas, descanso semanal remunerado, indenização por dispensa sem justa causa, proteção ao trabalho do menor e da mulher, férias remuneradas, estabilidade à gestante etc.
Desde 1997, o dia 9 de julho passou a ser feriado civil no estado de São Paulo. Aprovado pela Assembleia Legislativa, o projeto virou Lei Estadual nº 9.497, de 5 de março de 1997, sancionada pelo então governador Mário Covas.

PARA SABER MAIS:
Assista aos documentários a seguir:

32, A GUERRA CIVIL:



A GUERRA DOS PAULISTAS:

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