5 de fev. de 2014 | By: Fabrício

Cangaço: uma guerra no sertão


A formação da comunidade religiosa de Canudos, relatada por Euclides da Cunha, e a organização de bandos armados conhecidos como cangaceiros têm uma face muito comum: as dificuldades da vida sertaneja no início da Primeira República (1889-1930), geradas pela concentração da propriedade rural, pelas secas e polo mandonismo dos coronéis.

O termo "cangaço" já aparecia em relatos do Nordeste do início do século XIX. É provável que a expressão se referisse a certos homens que andavam armados, com cartucheiras, facas longas e clavinotes (um tipo de arma de fogo antiga) cruzando os ombros, tal como uma canga, peça de madeira usada para prender os bois pelo pescoço.

Mais tarde, quando a expressão se tornou corrente, o cangaço passou a designar a ação de bandos armados que percorriam o sertão nordestino atacando povoados e fazendas, roubando, matando e fugindo da polícia.

Numa primeira fase do cangaço os grupos armados eram sustentados por chefes políticos locais, que lhes davam casa, comida e muitas vezes um pedaço de terra em troca de proteção armada nas disputas políticas com os adversários. Num segundo momento formaram-se bandos desvinculados do poder local.

O bando de João Calandro

A formação dos primeiros bandos independentes está associada às grandes secas que devastavam a economia sertaneja e obrigavam muitos pais de família a sair de sua pequena roça em busca de sustento em outras regiões.

Em 1877, por exemplo, o sertão nordestino foi atingido por uma terrível seca, que matou cerca de 500 mil pessoas e obrigou 3 milhões de sertanejos a buscar a sobrevivência em outras áreas.

A crise causada pela grande seca favoreceu a formação do mais conhecido bando do período, chefiado por João Calandro. Em 1876, Calandro era um jagunço a serviço de um chefe político do Cariri, no sertão do Ceará. Com a seca de 1877, fazendeiros e autoridades pediram seu apoio para reprimir os saques promovidos por sertanejos famintos.

Enquanto a seca perdurou, Calandro recebeu ajuda de autoridades e fazendeiros. Quando as chuvas voltaram a cair, a população flagelada pôde retomar suas atividades na agricultura e na criação de gado.

João Calandro, no entanto, manteve suas exigências e não aceitou o comando de nenhuma autoridade. Iniciou-se uma luta sangrenta entre os homens de Calandro e a polícia, que durou até Calandro se refugiar no sertão do Piauí.

Representação de cangaceiros com suas armas e vestimentas.

Lampião, o rei do cangaço

A história de Virgulino Ferreira da Silva, o Lampião, é parecida com a de muitos sertanejos que aderiram ao cangaço. Nascido por volta de 1898, no estado de Pernambuco, Virgulino cresceu rodeado por disputas sangrentas entre famílias rivais. o assassinato de um membro de uma das famílias desencadeava uma onda de mortes e perseguições, movidas pelo desejo de vingança.

O pai de Virgulino foi morto por selar uma aliança com os Pereiras, uma das famílias dominantes do setão de Pernambuco. Dispostos a vingar a morte de seu pai, Virgulino e seus irmãos ingressaram no bando de Sinhô Pereira, conhecido em Pernambuco pelas atrocidades cometidas contra os inimigos. Seis anos depois, em 1922, Lampião assumiu a chefia do bando.

No comando do grupo, Virgulino fez do sertão o cenário de violentas aventuras. Seus homens atacavam cidades, cortavam os fios da rede de telégrafo para impedir a comunicação com a polícia e saqueavam o comércio. Fazendeiros, vaqueiros e pequenos agricultores eram torturados e degolados por não se submeterem às suas ordens ou por traírem a sua confiança.

Esse homem, que se esgueirava pela caatinga, ao mesmo tempo amado, temido e odiado, transformou-se numa lenda do sertão.

Foto de Virgulino Ferreira da Silva, o Lampião (data desconhecida).

Amor e ódio no sertão

A fama do bando despertou nos sertanejos um misto de simpatia, medo e desejo de vingança. Crianças e jovens buscavam o grupo atraídos pelas histórias de lutas que ouviam e pelo sonho de uma vida sem miséria e repleta de aventuras.

No lado oposto, a ação violenta dos cangaceiros alimentou o desejo de vingança. Parentes das vítimas de estupro e assassinato, maridos cujas esposas abandonaram o lar para seguir o cangaceiro, agricultores e comerciantes revoltados com os saques promovidos pelo grupo ingressavam na polícia para combater o bando de Lampião. A luta contra o grupo motivou também a multiplicação das volantes, pequenos grupos de soldados, comandados por um sargento ou tenente, que percorriam o sertão combatendo os cangaceiros.

Cartaz do governo oferecendo 50 contos de reis de recompensa pela captura de Lampião. Uma pequena fortuna na época.

A morte de Lampião

Por volta de 1928, lampião conheceu Maria Bonita, a mulher que seria sua companheira até o final dsa vida. Mal conheceu o cangaceiro, Maria aderiu ao grupo, deixando para trás casa e marido. Depois dela, outras mulheres ingressaram no bando para acompanhar seus maridos pelo sertão.

Nos de 1930, o governo fechou o cerco contra o bando de Lampião. perseguido pelas volantes, lampião instalou-se em Angico, no estado de Sergipe, de onde coordenava a ação do grupo.

O fim do cangaceiro estava próximo. Em 1938, com o auxílio de um comerciante conhecido de Virgulino, a polícia cercou o esconderijo do bando. Lampião, Maria Bonita e mais 9 cangaceiros foram mortos e decapitados pela polícia.

o cangaço sobreviveu por mais dois anos, centrado na figura de Courisco, um dos líderes do bando de Lampião. Courisco havia rompido com Lampião em 1937, devido a divergências na forma de conduzir o grupo.

O massacre em Angico despertou em Courisco a amizade que o unia ao antigo companheiro. Enfurecido, iniciou uma perseguição implacável contra o delatores de lampião. Mas o grupo já não tinha a coesão dos antigos tempos.

Courisco foi morto pela polícia em 1940, encerrando-se a era dos cangaceiro. No entanto, a miséria, a concentração de renda e de terras e o mandonismo dos coronéis, condições que alimentaram o cangaço, continuaram no sertão.

Foto de Courisco (data desconhecida).

Sem dúvida nenhuma o Cangaço é um movimento emblemático da história do país. Para algumas pessoas, esses homens são considerados heróis, uma vez que tentavam romper com a ordem política existente e ao mesmo tempo acabar ou ao menos amenizar as mazelas das pessoas de seu bando que viviam marginalizados, já que o governo não lhes dava nenhuma assistência. Já para outros, não passavam de brutais assassinos, sem nenhuma compaixão, uma vez que, matavam aqueles que atravessavam seus caminhos sem nenhuma compaixão.


ASSISTAM AOS VÍDEOS A SEGUIR:






BIBLIOGRAFIA SOBRE O CANGAÇO:

 O Cangaço
   Autor: Olivieri, Antônio Carlos
   Editora: Ática
 Cangaço - a guerra no sertão da República
   Autor: Bráz, Júlio Emílio
   Editora: Saraiva
 Estrelas de Couro - a estética do cangaço
   Autor: Mello, Frederico Pernambucano de
   Editora: Escrituras
 História do Cangaço
   Autor: Queiroz, Maria Isaura Pereira de
   Editora: Global
 O outro lado do cangaço
   Autor: Monteiro, Roberto Pedrosa
   Editora: Edição do autor

5 comentários:

Anônimo disse...

-Vlw ajudo bastante :)

Anônimo disse...

Ta ajudando bastante. Obg :D

Anônimo disse...

idiota

Gusto disse...

O senhor pode iden ificar os demais da foto 1. e o local?

Unknown disse...

O cangaço

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