Começando uma série sobre mitologia grega, inaugurarei contando o mito de Pandora.
MITOLOGIA
Ao contrário dos
nossos mitos contemporâneos, celebridades fugazes muitas vezes criadas pela
imposição da mídia, os mitos gregos serviam para dar sentido ao mundo e à
existência humana. Seus deuses ajudaram o homem a compreender uma natureza repleta
de mistérios e, também, a escrever a história de uma civilização que permanece,
até hoje, como um das mais magníficas de todos os tempos.
PANDORA
A criação do
mundo é um problema que, muito naturalmente, desperta a curiosidade do homem,
seu habitante. Os antigos pagãos, que não dispunham, sobre o assunto, das
informações de que dispomos, procedentes das Escrituras, tinham sua própria
versão sobre o acontecimento, que era a seguinte:
Antes de serem
criados o mar, a terra e o céu, todas as coisas apresentavam um aspecto a que
se dava o nome de Caos – uma informe e confusa massa, mero peso morto, no qual,
contudo, jaziam latentes as sementes das coisas. A terra, o mar e o ar estavam
todos misturados; assim, a terra não era sólida, o mar não era líquido, e o ar
não era transparente. Deus e a Natureza intervieram finalmente puseram fim a
essa discórdia, separando a terra do mar e o céu de ambos. Sendo a parte ígnea
a mais leve, espalhou-se e formou o firmamento; o ar colocou-se em seguida, no
que diz respeito ao peso e ao lugar.
Nesse ponto, um
deus – não se sabe qual – tratou de empregar seus ofícios para arranjar e
dispor as coisas da Terra. Determinou aos rios e lagos seus lugares, levantou
montanhas, escavou vales, distribuiu os bosques, as fontes, os campos férteis e
as áridas planícies, os peixes tomaram posse do mar, as aves, do ar, e os
quadrúpedes, da terra.
Tomara-se
necessário, porém, um animal mais nobre, e foi feito o Homem. Não se sabe se o
Criador o fez de materiais divinos, ou se na Terra, há tão pouco tempo separada
do céu, ainda havia algumas sementes celestiais ocultas. Prometeu tomou um
pouco dessa terra e, misturando-a com água, fez o homem à semelhança dos
deuses. Deu-lhe o porte ereto, de maneira que, enquanto os outros animais têm o
rosto voltado para baixo, olhando a terra, o homem levanta a cabeça para o céu
e olha as estrelas.
Pandora. William Waterhouse, 1896.
Prometeu era um
dos titãs, uma raça gigantesca, que habitou a Terra antes do homem. Ele e seu
irmão Epitemeu foram incumbidos de fazer o homem e assegurar-lhe, e aos outros
animais, todas as faculdades necessárias à sua preservação. Epitemeu
encarregou-se da obra e Prometeu, de examiná-la, depois de pronta. Assim,
Epimeteu tratou de atribuir a cada animal seus dons variados, de coragem,
força, rapidez, sagacidade; asas a um, garras a outro, uma carapaça protegendo
um terceiro etc. Quando, porém, chegou a vez do homem, que tinha de ser
superior a todos os outros animais, Epimeteu gastara seus recursos com tanta
prodigalidade que nada mais restava. Perplexo, recorreu a seu irmão Prometeu,
que, com a ajuda de Atena, subiu ao céu e acendeu uma tocha no carro do sol,
trazendo fogo para o homem. Com esse dom, o homem assegurou sua superioridade
sobre todos os outros animais. O fogo lhe forneceu o meio de construir as armas
com que subjugou os animais e as ferramentas com que cultivou a terra; aquecer
sua morada, de maneira a tornar-se relativamente independente do clima, e,
finalmente criar a arte da cunhagem das moedas, que ampliou e facilitou o
comércio.
A mulher não
fora ainda criada. A versão (bem absurda) é que Zeus a fez e enviou-a a
Prometeu e a seu irmão, para puni-los pela ousadia de furtar o fogo do céu, e
ao homem, por tê-lo aceito. A primeira mulher chamava-se Pandora. Foi feita no
céu, e cada um dos deuses contribuiu com alguma coisa para aperfeiçoá-la. Afrodite
deu-lhe a beleza, Hermes, a persuasão, Apolo, a música etc. Assim dotada, a
mulher foi mandada à Terra e oferecida a Epimeteu, que de boa vontade a
aceitou, embora advertido pelo irmão para ter cuidado com Zeus e seus
presentes. Epimeteu tinha em sua casa uma caixa, na qual guardava certos
artigos malignos, de que não se utilizara, ao preparar o homem para sua nova
morada. Pandora foi tomada por intensa curiosidade de saber o que continha
aquela caixa e, certo dia, destampou-a para olhar. Assim, escapou e se espalhou
por toda a parte uma multidão de pragas que atingiram o desgraçado homem, tais
como o reumatismo e a cólica, para o corpo, e a inveja, o despeito e a
vingança, para o espírito. Pandora apressou-se em colocar a tampa na caixa, mas
infelizmente, escapara-lhe todo o conteúdo com exceção de uma única coisa, que
ficara no fundo, e que era a esperança. Assim, sejam quais forem os males que
nos ameacem, a esperança não nos deixa inteiramente; e, enquanto a tivermos,
nenhum mal nos torna inteiramente desgraçados.
Pandora abre a caixa. Walter Crane, 1893.
Uma outra versão
é a de que Pandora foi mandada por Zeus com boa intenção, a fim de agradar
ao homem. O rei dos deuses entregou-lhe, como presente de casamento, uma caixa,
em que cada deus colocara um bem. Pandora abriu a caixa, inadvertidamente, e
todos os bens escaparam, exceto a esperança. Essa versão é, sem dúvida, mais aceitável
do que a primeira.
REFERÊNCIAS:
HAMILTON, E. A Mitologia. 3. ed. Trad. M. L. Pinheiro. Lisboa: Dom Quixote, 1983.
1 comentários:
Ótimo o blog,Parabéns...
Postar um comentário