Josué Apolônio
de Castro (Recife, 5 de setembro de 1908 - Paris, 24 de
setembro de 1973), mais conhecido como Josué de Castro, foi
um influente médico, nutrólogo,
professor, geógrafo,
cientista social, político,
escritor, ativista brasileiro que dedicou sua vida ao combate à fome. Destacou-se no cenário brasileiro e
internacional, não só pelos seus trabalhos ecológicos sobre o problema da fome
no mundo, mas também no plano político em vários organismos internacionais.
No período entre
1930 e 1960, emerge no cenário intelectual brasileiro a figura de Josué de
Castro, um dos grandes nomes da Geografia brasileira. Seus estudos sobre a
alimentação e a fome se tornaram referência para os debates sobre as relações
entre agricultura e desenvolvimento, num contexto histórico conturbado, marcado
pela II Guerra Mundial, pela Revolução Popular Chinesa, reconstrução da Europa
e convulsões sociais diversas ao redor do mundo. Naquele contexto, a fome era
um fenômeno central dentro dos desafios econômicos e sociais dos quais a humanidade
não podia esquivar-se. Castro esboçou uma análise multifacetária do tema,
abordado em diversas escalas espaciais e temporais, resultando num aprofundamento
da reflexão sobre a realidade social brasileira e mundial.
É inegável a
importância do pensamento de Josué de Castro para geografia brasileira, visto
que o autor participou muito próximo da eclosão da geografia
institucionalizada, além de configurar como precursor da geografia crítica no
país. A relevância dada por ele ao problema da fome, desde escalas locais até
uma análise mundial, mostrou que a pobreza é resultado da forma com que as
grandes potências econômicas se relacionaram e se relacionam, historicamente,
com os países subjugados aos seus sistemas de dominação. Temas como
colonialismo, imperialismo e armamentismo são tratados por Castro como sendo a
base de um sistema econômico desigual, e diretamente relacionados com os
problemas de carência alimentar e pobreza de diversas populações mundo afora.
Sua proximidade
com a Escola Francesa do Possibilismo permitiu à Castro o conhecimento teórico
e metodológico sobre a ciência geográfica, porém seus estudos partiram da
realidade social e econômica do seu país de origem. O traçado sombrio da fome
apresentado mostra que não haverá paz no mundo enquanto a indústria da guerra
prevalecer sobre o bem-estar dos povos, com desenvolvimento socioeconômico que
permita a reprodução da vida em todas suas necessidades. Segundo ele,
“A própria
fome será o condutor e a mola fundamental de uma revolução social
adequada para
afastar progressivamente o mundo da beira desse abismo que
ameaça
devorar a civilização, com avidez bem maior do que os oceanos
ameaçam engolir
nossos solos.” (Castro, Geografia da Fome).
Para a
Geografia, a maior contribuição de Castro foi o aperfeiçoamento do método de
estudos regionais, no momento em que ele abriu caminho para o aparecimento de
uma geografia voltada para a discussão dos problemas reais da sociedade, com
fundamentos de prática política. Foi também em relação ao vasto conteúdo
deixado em seus estudos sobre a fome, que permite aprofundar debates de
diversas ciências utilizadas como base para os estudos geográficos.
Logo abaixo segue um documentário sobre sua vida e obra.
Logo abaixo segue um documentário sobre sua vida e obra.
Uma
das influências radicais do movimento manguebeat foi a obra do cientista Josué
de Castro (1908-1973). Natural do Recife, citado explicitamente em letras (“Oh
Josué, eu nunca vi tamanha desgraça /Quanto mais miséria tem, mais urubu ameaça”),
depoimentos e manifestos do movimento, Josué pode ser considerado o primeiro
mangueboy da história.
Foi
de sua observação direta da relação entre homens e caranguejos nos manguezais
da capital pernambucana que nasceria a descoberta de um drama crucial: o da
fome. E a revelação de que, diferentemente do que imaginava a princípio, a fome
não era um drama exclusivo de sua cidade, uma vez que medrava em toda parte.
A
luta pela sobrevivência de homens e caranguejos nos mangues do Recife seria
denominada, por Josué, de Ciclo do Caranguejo, que o manguebeat transformou na
metáfora síntese de expressão de um povo. Explica o Ciclo do Caranguejo o
próprio Josué: “Se a terra foi feita para o homem com tudo para bem servi-lo, o
mangue foi feito essencialmente para o caranguejo. Tudo aí é, ou está para ser
caranguejo, inclusive a lama e o homem que vive nela. (...) O que o organismo
rejeita volta como detrito para a lama do mangue para virar caranguejo outra
vez”.
É nesse contexto que Chico Science (1966-1997), um dos principais colaboradores do movimento manguebeat em meados da década de 1990 e líder da banda Chico Science & Nação Zumbi, influenciado por Josué de Catro, compôs a música Da Lama ao Caos.
É nesse contexto que Chico Science (1966-1997), um dos principais colaboradores do movimento manguebeat em meados da década de 1990 e líder da banda Chico Science & Nação Zumbi, influenciado por Josué de Catro, compôs a música Da Lama ao Caos.
Música: Da Lama ao Caos
Banda: Chico Science & Nação Zumbi
Posso sair daqui pra me organizar
Posso sair daqui pra desorganizar
Posso sair daqui pra me organizar
Posso sair daqui pra desorganizar
Da lama ao caos, do caos a lama
Um homem roubado nunca se engana
Da lama ao caos, do caos a lama
Um homem roubado nunca se engana
O sol queimou, queimou a lama do rio
Eu vi um Chié andando devagar
E um aratu pra lá e pra cá
E um caranguejo andando pro sul
Saiu do mangue, virou gabiru
Oh Josué eu nunca ví tamanha desgraça
Quanto mais miséria tem, mais urubu ameaça
Peguei o balaio, fui na feira roubar tomate e cebola
Ia passando uma veia, pegou a minha cenoura
Aí minha veia, deixa a cenoura aqui
Com a barriga vazia não consigo dormir
E com o bucho mais cheio comecei a pensar
Que eu me organizando posso desorganizar
Que eu desorganizando posso me organizar
Que eu me organizando posso desorganizar
Da lama ao caos
Do caos à lama
Um homem roubado nunca se engana.
CASTRO, Josué de. Geografia da Fome. 5a ed. São Paulo: Brasiliense, 1957a.
Um homem roubado nunca se engana
Da lama ao caos, do caos a lama
Um homem roubado nunca se engana
O sol queimou, queimou a lama do rio
Eu vi um Chié andando devagar
E um aratu pra lá e pra cá
E um caranguejo andando pro sul
Saiu do mangue, virou gabiru
Oh Josué eu nunca ví tamanha desgraça
Quanto mais miséria tem, mais urubu ameaça
Peguei o balaio, fui na feira roubar tomate e cebola
Ia passando uma veia, pegou a minha cenoura
Aí minha veia, deixa a cenoura aqui
Com a barriga vazia não consigo dormir
E com o bucho mais cheio comecei a pensar
Que eu me organizando posso desorganizar
Que eu desorganizando posso me organizar
Que eu me organizando posso desorganizar
Da lama ao caos
Do caos à lama
Um homem roubado nunca se engana.
CASTRO, Josué de. Geografia da Fome. 5a ed. São Paulo: Brasiliense, 1957a.
__________. Ensaios de
Geografia Humana. São Paulo:
Brasiliense, 1957b.
__________ .Ensaios de
Biologia Social. São Paulo: Brasiliense,
1957c.
__________. Documentário do Nordeste. São Paulo: Brasiliense, 1957d.
__________. Sete palmos de terra e um caixão:
ensaio sobre o Nordeste, área explosiva. 2a ed. São Paulo: Brasiliense, 1967.
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