Resolvi escrever este pequeno artigo, a partir de uma conversa que tive entre amigos a respeito de haver ou não cota para os afro-brasileiros nas universidades públicas. Apesar de ser bastante polêmico, não vou aqui me ater ao tema das cotas. Quero aqui expôr minha forma de pensar sobre o negro em nossa sociedade desde o nosso período colonial até os dias atuais.
Foram os tempos que o
negro, mesmo construindo a riqueza e o desenvolvimento nacional, foi esquecido.
De fato, não houve a extensão dos direitos sociais a ele, mesmo após a alforria
coletiva promulgada no dia 13 de maio de 1888. Ao negro, sobrou então as funções
mais subalternas e indignificantes no exercício de sua parca cidadania.
Portanto, o 13 de maio de 1888 não significou o fim dos problemas dos negros,
pelo contrário, sua luta estava apenas começando a fim de buscarem seu espaço e
reconhecimento dentro de uma sociedade branca e elitista.
Nos anos de 1980 e 1990, o
debate sobre a causa negra ressurge com uma nova roupagem, como parte dos
movimentos sociais que fortaleceram desde os anos 1970 em torno da identidade
negra, da cidadania, seja pela politização em torno de uma consciência negra ou
de uma cultura negra como meio de marcar uma cidadania diferenciada. Cidadãos
com direitos, mas enquanto negros, afirmados muitas vezes culturalmente, seja
através do candomblé, do reggae, da capoeira ou de outras práticas culturais.
O processo da colonização
brasileira traz consigo traços culturais diferentes trazidos pelos europeus,
índios e africanos, os quais contribuíram nos aspectos econômicos, sociais e
políticos para a formação da identidade nacional. O negro - ou como atualmente
é chamado, afro-brasileiro - começou a ser introduzido no Brasil no final do
século XVI, com o objetivo de substituir a mão de obra indígena, passando a
fazer parte como o principal construtor da grandeza econômica das colônia e um
dos principais formadores da nossa sociedade.
Falar sobre a contribuição
do negro para a formação da sociedade brasileira é falar daqueles que plantaram
cana-de-açúcar, garimparam o ouro, construíram casas, casarões, igrejas,
fortes, sobrados, cidades inteiras, num mundo feito para brancos, os quais os
viam apenas como animais ou objetos, ferramentas sem nome, sem memória, sem
história e sem mérito algum pelo que realizaram na construção do país e da
sociedade, que cada vez mais os influenciava pela cultura, religião e até mesmo
pela intensa mestiçagem, tanto com o branco como com o índio. O negro
em geral não era tido como gente, e por isso não existia em termos de ter
identidade, cultura e história. O negro, que outrora na África era príncipe ou
rei de uma grande tribo, agora tinha seu nome, sua crença, sua dignidade e sua
história apagada pelo europeu que o levou ao cativeiro.
Quando analisamos com
afinco a história do movimento negro brasileiro e mundial é possível
percebermos uma característica comum a todos, que nada foi dado a eles, tudo
foi conquistado dentro de um processo de muita luta. No Brasil, desde a
extinção da escravidão, a comunidade afro-brasileira não tem sido contemplada
com políticas públicas de caráter compensatório. O legado deixado pela
perspectiva liberal grifou no curso da trajetória do afrodescendente o
desassossegado e a pobreza. O endosso às políticas públicas reparatórias vem no
resgate à dignidade de uma comunidade que, desde a diáspora africana,
encontra-se afastada da denominada sociedade inclusiva.
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