14 de mar. de 2013 | By: Fabrício

A Companhia de Jesus (IHS)



O conclave elegeu, como novo papa (13 de março de 2013), o cardeal Jorge Mario Bergoglio (papa Francisco), argentino, sucessor de Bento XVI à frente da Igreja Católica. Ele se tornou o 226º papa da Igreja (o primeiro latino-americano e também jesuíta). 

Importante congregação dentro da formação do Brasil no período colonial, os jesuítas foram essenciais para os planos da Igreja aqui no "Novo Mundo". Diante de tais fatos, explicaremos de forma breve que ordem é essa.


IHS: é a abreviação do nome de Jesus na escrita latina como se usava na Idade Média: lhesus Hominis Salvador (Jesus Salvador dos Homens). No século XVI, foi retomado com a significação de “Jesum habemus socium”, que quer dizer, “Temos Jesus como companheiro". O SOL: mostra a propagação (irradiação dos raios luminosos) do Cristo que visa chegar a todos os cantos do mundo. Missão missionária da Companhia de Jesus, além-fronteiras. OS CRAVOS E A CRUZ: alusão à Paixão do Senhor, como aviso da força e espírito de sacrifício necessário para a missão.

Depois de São Francisco de Assis, Santo Inácio de Loyola foi quem mais contribuiu para a difusão de tal insígnia. O fundador da Companhia utilizou o símbolo no início de suas principais cartas e escritos. Em forma impressa, usou o IHS como carimbo das principais publicações – por exemplo, na primeira edição do livro dos Exercícios Espirituais e, também, no carimbo oficial da Ordem.

Criada em 1534 por iniciativa de Inácio de Loyola (1491-1556), a Companhia de Jesus foi um modelo de ordem religiosa nascida da Contrarreforma – ou da Reforma Católica, como quer a historiografia recente. A fundação da Societas Iesu (Companhia de Jesus, em latim) ocorreu quase 20 anos depois de Martinho Lutero (1483-1556) afixar suas 95 teses na Catedral de Wittemberg, dividindo a cristandade romana. Os jesuítas se esforçaram ao máximo para defender uma Igreja acuada. E, assim, correram o mundo. Na Europa, procuravam reforçar o catolicismo por meio do ensino. Nas conquistas ultramarinas ibéricas, procuravam expandi-lo pela catequese. Desde cedo, afirmaram a vocação da Companhia e, não por acaso, seriam chamados de “soldados de Cristo”.

Em 1540, o papa Paulo III aprovou o instituto inaciano, e os jesuítas se lançaram ao Oriente português, sob a batuta de Francisco Xavier (1506-1552). No mesmo século, alcançaram a China, onde o padre Matteo Ricci (1552-1610) iniciou a adaptação do cristianismo à língua chinesa falada em Macau. Em 1549, chegaram ao Japão, onde Luís Fróes traduziu o cristianismo para a cultura local, experiência que terminou em tragédia, pois os jesuítas acabaram martirizados, em 1638, após uma revolta de camponeses cristãos.
No mundo atlântico, alcançaram o Congo ainda em 1548, favorecidos pela conversão do manicongo, o governante do Reino do Congo, ao cristianismo. Logo se instalaram em Angola, fundando o colégio de Luanda. Como no Oriente, traduziram o cristianismo para a cultura dos povos bantos. Essa missionação da África centro-ocidental põe em xeque a tese de que os escravos enviados ao Brasil desconheciam o cristianismo.
Ao Brasil, eles chegaram em 1549, liderados por Manuel da Nóbrega (1517-1570). Defrontando-se com uma sociedade menos complexa que as orientais, os jesuítas julgaram, de início, que a catequese seria mais fácil, e alguns chegaram a escrever que os tupinambás não tinham religião. Nóbrega esboçou em 1557 seu plano de aldeamento, cujo passo inicial era deslocar os índios para aldeias controladas pelos padres. Missionar no mundo indígena era ineficaz e perigoso: um deles, Pedro Correia, fora comido pelos carijós, na região de Cananeia, em 1554.
Também no Brasil os inacianos adaptaram o catolicismo à cultura local, no caso a tupi, a começar pela gramática de José de Anchieta (1534-1597). Escrita em 1556, tornou-se leitura obrigatória para os regedores das aldeias. Em todo caso, tiveram que enfrentar a resistência das tradições nativas. Obstáculo maior enfrentado pela Companhia foi a avidez dos colonos em escravizar os nativos. Os jesuítas resistiram em toda parte, sobretudo no século XVII, arrancando da Coroa leis proibitivas do cativeiro indígena. Os colonos, por sua vez, sempre pressionaram pelo direito de apresar os índios em “guerra justa”, isto é, em suposta represália a índios hostis.
Também na América Espanhola os jesuítas se destacaram. Mas ali só chegaram nos anos 1560. Tiveram que disputar espaço com dominicanos e franciscanos, pioneiros na catequese do México e do Peru. Acabaram dominando a catequese somente no sul, junto aos guaranis, no atual Paraguai. Estenderam a missão ao continente de São Pedro, no atual Rio Grande do Sul, fundando os Sete Povos das Missões.
Na segunda metade do século XVIII, as Coroas ibéricas bateram de frente com os jesuítas, a começar pela portuguesa, no tempo do marquês de Pombal. Muitos alegam que o problema residia na riqueza dos jesuítas, alvo da cobiça real. Outros destacam a fidelidade deles ao papa, um “soberano estrangeiro”, e não ao rei. Há quem destaque o papel dos jesuítas na Guerra Guaranítica (1753-56), quando os índios aldeados enfrentaram tropas luso-espanholas, desafiando o Tratado de Madri, que definia os limites das colônias espanholas e portuguesas. Tudo isto teve o seu peso. Mas talvez o mais importante tenha sido a hegemonia intelectual que os inacianos exerciam no mundo ibérico, o que contrariava o projeto de modernização do despotismo ilustrado, isto é,um conjunto de reformas adotadas pela Coroa, sob a inspiração de alguns ideais iluministas, na segunda metade do século XVIII.
O fato é que, por decreto de 1759, os jesuítas foram expulsos de Portugal e das colônias, tendo todos os bens confiscados. Outras monarquias seguiram o exemplo luso, por convicção ou interesse: a França, em 1762; a Espanha e o reino de Nápoles, em 1767; o ducado de Parma, em 1768. Em 1773, sob forte pressão, o papa Clemente XIV, franciscano, extinguiu a Companhia. Os inacianos foram presos e vários deles ingressaram em outras ordens. Os jesuítas tiveram que esperar até 1814 para ver sua Companhia restaurada. Depois do furacão napoleônico, a Roma dos papas percebeu que precisava deles outra vez.

REFERÊNCIAS:
  • AGNOLIN, Adone. Jesuítas e selvagens – a negociação da fé. São Paulo: Humanitas, 2007.
  • VAINFAS, Ronaldo. A heresia dos índios  Catolicismo e rebeldia no Brasil colonial. São Paulo: Companhia das Letras, 1995.

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