O conclave elegeu, como novo papa (13 de março de 2013), o cardeal Jorge Mario Bergoglio (papa Francisco), argentino, sucessor de Bento XVI à frente da Igreja Católica. Ele se tornou o 226º papa da Igreja (o primeiro latino-americano e também jesuíta).
Importante congregação dentro da formação do Brasil no período colonial, os jesuítas foram essenciais para os planos da Igreja aqui no "Novo Mundo". Diante de tais fatos, explicaremos de forma breve que ordem é essa.
IHS: é a abreviação do nome
de Jesus na escrita latina como se usava na Idade Média: lhesus Hominis Salvador (Jesus Salvador dos Homens). No século XVI, foi retomado com a significação de “Jesum
habemus socium”, que quer dizer, “Temos Jesus como
companheiro". O SOL: mostra a propagação (irradiação dos raios luminosos) do Cristo que visa chegar a todos os cantos do mundo. Missão missionária da Companhia de Jesus, além-fronteiras. OS CRAVOS E A CRUZ: alusão à Paixão do Senhor, como aviso da força e espírito de sacrifício necessário para a missão.
Depois
de São Francisco de Assis, Santo Inácio de Loyola foi quem mais contribuiu para
a difusão de tal insígnia. O fundador da Companhia utilizou o símbolo no início de
suas principais cartas e escritos. Em forma impressa, usou o IHS como carimbo
das principais publicações – por exemplo, na primeira edição do livro dos
Exercícios Espirituais e, também, no carimbo oficial da Ordem.
Criada
em 1534 por iniciativa de Inácio de Loyola (1491-1556), a Companhia de Jesus
foi um modelo de ordem religiosa nascida da Contrarreforma – ou da Reforma
Católica, como quer a historiografia recente. A fundação da Societas Iesu (Companhia de Jesus, em latim) ocorreu
quase 20 anos depois de Martinho Lutero (1483-1556) afixar suas 95 teses na
Catedral de Wittemberg, dividindo a cristandade romana. Os jesuítas se
esforçaram ao máximo para defender uma Igreja acuada. E, assim, correram o
mundo. Na Europa, procuravam reforçar o catolicismo por meio do ensino. Nas
conquistas ultramarinas ibéricas, procuravam expandi-lo pela catequese. Desde
cedo, afirmaram a vocação da Companhia e, não por acaso, seriam chamados de
“soldados de Cristo”.
Em 1540, o papa Paulo III aprovou o instituto
inaciano, e os jesuítas se lançaram ao Oriente português, sob a batuta de
Francisco Xavier (1506-1552). No mesmo século, alcançaram a China, onde o padre
Matteo Ricci (1552-1610) iniciou a adaptação do cristianismo à língua chinesa
falada em Macau. Em 1549, chegaram ao Japão, onde Luís Fróes traduziu o
cristianismo para a cultura local, experiência que terminou em tragédia, pois
os jesuítas acabaram martirizados, em 1638, após uma revolta de camponeses
cristãos.
No mundo atlântico, alcançaram o Congo ainda em
1548, favorecidos pela conversão do manicongo, o governante do Reino do
Congo, ao cristianismo. Logo se instalaram em Angola, fundando o colégio de
Luanda. Como no Oriente, traduziram o cristianismo para a cultura dos povos
bantos. Essa missionação da África centro-ocidental põe em xeque a tese de que
os escravos enviados ao Brasil desconheciam o cristianismo.
Ao Brasil, eles chegaram em 1549, liderados por
Manuel da Nóbrega (1517-1570). Defrontando-se com uma sociedade menos
complexa que as orientais, os jesuítas julgaram, de início, que a catequese
seria mais fácil, e alguns chegaram a escrever que os tupinambás não tinham
religião. Nóbrega esboçou em 1557 seu plano de aldeamento, cujo passo inicial
era deslocar os índios para aldeias controladas pelos padres. Missionar no
mundo indígena era ineficaz e perigoso: um deles, Pedro Correia, fora comido
pelos carijós, na região de Cananeia, em 1554.
Também no Brasil os inacianos adaptaram o
catolicismo à cultura local, no caso a tupi, a começar
pela gramática de José de Anchieta (1534-1597). Escrita em 1556,
tornou-se leitura obrigatória para os regedores das aldeias. Em todo caso,
tiveram que enfrentar a resistência das tradições nativas. Obstáculo maior
enfrentado pela Companhia foi a avidez dos colonos em escravizar os nativos. Os
jesuítas resistiram em toda parte, sobretudo no século XVII, arrancando da
Coroa leis proibitivas do cativeiro indígena. Os colonos, por sua vez, sempre
pressionaram pelo direito de apresar os índios em “guerra justa”, isto é, em
suposta represália a índios hostis.
Também na América Espanhola os jesuítas se
destacaram. Mas ali só chegaram nos anos 1560. Tiveram que disputar espaço com
dominicanos e franciscanos, pioneiros na catequese do México e do Peru.
Acabaram dominando a catequese somente no sul, junto aos guaranis, no atual
Paraguai. Estenderam a missão ao continente de São Pedro, no atual Rio Grande
do Sul, fundando os Sete Povos das Missões.
Na segunda metade do século XVIII, as Coroas
ibéricas bateram de frente com os jesuítas, a começar pela portuguesa, no tempo
do marquês de Pombal. Muitos alegam que o problema residia na riqueza dos
jesuítas, alvo da cobiça real. Outros destacam a fidelidade deles ao papa, um
“soberano estrangeiro”, e não ao rei. Há quem destaque o papel dos jesuítas na
Guerra Guaranítica (1753-56), quando os índios aldeados enfrentaram tropas
luso-espanholas, desafiando o Tratado de Madri, que definia os limites das
colônias espanholas e portuguesas. Tudo isto teve o seu peso. Mas talvez o mais
importante tenha sido a hegemonia intelectual que os inacianos exerciam no
mundo ibérico, o que contrariava o projeto de modernização do despotismo
ilustrado, isto é,um conjunto de reformas adotadas pela Coroa, sob a inspiração
de alguns ideais iluministas, na segunda metade do século XVIII.
O fato é que, por decreto de 1759, os jesuítas
foram expulsos de Portugal e das colônias, tendo todos os bens confiscados.
Outras monarquias seguiram o exemplo luso, por convicção ou interesse: a
França, em 1762; a Espanha e o reino de Nápoles, em 1767; o ducado de Parma, em
1768. Em 1773, sob forte pressão, o papa Clemente XIV, franciscano, extinguiu a
Companhia. Os inacianos foram presos e vários deles ingressaram em outras
ordens. Os jesuítas tiveram que esperar até 1814 para ver sua Companhia
restaurada. Depois do furacão napoleônico, a Roma dos papas percebeu que
precisava deles outra vez.
REFERÊNCIAS:
- AGNOLIN, Adone. Jesuítas e selvagens – a negociação da fé. São
Paulo: Humanitas, 2007.
- VAINFAS, Ronaldo. A heresia dos índios – Catolicismo e rebeldia no Brasil colonial. São Paulo: Companhia das Letras, 1995.