“É melhor
atirar-se à luta em busca de dias melhores, mesmo correndo o risco de perder
tudo, do que permanecer estático, como os pobres de espírito, que não lutam,
mas também não vencem, que não conhecem a dor da derrota, nem a glória de ressurgir
dos escombros. Esses pobres de espírito, ao final de sua jornada na Terra não
agradecem a Deus por terem vivido, mas desculpam-se perante Ele, por terem
apenas passado pela vida”.
BOB
MARLEY
Desde o início
do recebimento da notícia que a Copa do Mundo de 2014 e a Olimpíada de 2016
seriam realizadas no Brasil é que venho pensando quantos bilhões de nosso dinheiro
público seriam gastos e quantos políticos e empresários iriam enriquecer e se
beneficiar com tais eventos.
Um dos
principais argumentos para que a Copa e a Olimpíada aconteçam no Brasil é do
legado que esses eventos teoricamente iriam deixar ao nosso país, já que
estamos presenciando de perto a falência de nossa infraestrutura em diversos
aspectos. Portos defasados, estradas e rodovias precárias, aeroportos que
necessitam de ampliação, investimento em ferrovias, hospitais à beira da
falência, melhorias no sistema de transporte público... Entre outros aspectos
que todo bom brasileiro já conhece.
Em vista disso, é que fico indignado quando vejo que bilhões estão sendo
investidos para a construção e reforma de estádios para a Copa do Mundo
enquanto o povo brasileiro tende a sobreviver em meio ao caos que nossa
sociedade apresenta, como saúde, educação e segurança pública problemática. Mas
e o então prometido legado que esses eventos eram pra deixar em nosso país?
Infelizmente mais uma vez entra para o rol de promessas que todos nós já
estamos acostumados a ouvir.
Contraste de paisagem brasileira. Enquanto há milhões investidos na reforma no estádio do Maracanã, não há investimento nas regiões periféricas da cidade.
Mas será que precisamos desses eventos para melhorar nossa
infraestrutura? Afinal, o que os municípios, os estados e o governo federal
fazem com todo o montante que arrecadam com os nossos impostos? Para se ter uma
ideia, 34% do PIB brasileiro são de impostos, uma vez que a média de toda
América Latina gira em torno de 17,5%. Como se não bastasse há ainda o dinheiro
dos Royalties do petróleo que os estados produtores dispõem. Será que não são
suficientes? Ao meu entender são mais que suficientes, o problema é que toda
essa soma é má gerida quando não desviada para o bolso de muitos políticos e
empresários inescrupulosos.
É certo que nossos legisladores são omissos, não governam para o povo. O que vivemos é uma crise de
representatividade. Uma vez eleitos, preocupam-se apenas consigo mesmo, logo,
governam em benefício próprio. Essa forma de agir acontece em todas as esferas
de nossa federação. Para piorar e legitimar ações como essas existe a
impunidade que faz com que a corrupção se torne um ciclo vicioso no Brasil. Mas
e o povo diante de tal conjuntura, como fica?
O povo infelizmente fica a mercê desses legisladores que se utilizam de
políticas sociais paliativas e promovem eventos grandiosos a fim de fazer com
que a sociedade, mesmo que momentaneamente pare de se queixar e que perdure em
sua zona de conforto. É a famosa política do pão e circo dos tempos modernos.
Para nós contemporâneos o circo que
enquanto brasileiros temos, não são os espetáculos de gladiadores como que
acontecia na Roma Antiga, mas sim o nosso futebol, que aliena boa
parte dos brasileiros, pois dão mais valor ao seu time do coração ou à seleção
brasileira que para as questões políticas e sociais do país. Mas o que
seria então a política do pão na nossa sociedade atual? A resposta é óbvia, o
programa federal Bolsa Família.
Na sociedade romana da antiguidade, o
trigo era distribuído se muito a 0,5% da população total do Império. Assim, é
quase tão verossímil pensar que esse trigo mantinha o povo alimentado quanto
pensar que o salário-família concedido pelo Estado brasileiro possibilite aos
pais e mães trabalhadores criarem e alimentarem seus filhos.
Infelizmente ainda há uma boa parcela de
nossa sociedade que se encontra na linha da pobreza ou abaixo dela e que
necessitam de ajuda urgente. Entretanto, não dá para viver do assistencialismo
pelo resto da vida, pois programas como esse, além de servirem como medidas
paliativas servem também para manter atrelada essa parcela de nossa população
ao governo federal e acima de tudo, como um grande garantidor de votos em
futuras eleições.
Quero deixar claro que não sou contra o
Bolsa Família ou qualquer outra política assistencialista. O que se intenta
criticar é o objetivo da gestão pública, que ao que se percebe através desses
programas se faz passar por competente e auspicioso. Tais políticas seriam mais
eficientes se fossem associados com um investimento maciço em educação, saúde e
aperfeiçoamento da mão de obra, pois de nada adianta obrigar as pessoas irem à
escola, se não há estrutura e/ou professores idôneos a formarem uma consciência
política nos alunos ou mesmo a prepará-los para o mercado de trabalho.
Entretanto, o curioso é se perguntar por
qual motivo no Brasil, os gestores públicos governam, com as condições ora
expostas, e só agora há uma sinalização de movimento de subversão das massas?
Ao contrário do que se pensava que a
sociedade brasileira fosse omissa, alienada ou leniente, tal concepção veio
abaixo com a ocupação e efervescência da sociedade nas ruas. A verdade é que o
povo – independente da classe social, idade, religião ou opção sexual – se
cansou dos abusos cometidos por nossos legisladores. Não dá mais para ficarmos
como meros espectadores e assistirmos os excessos cometidos por essa corja que finge
nos representar.
Há
muito tempo apontamos a necessidade de o Brasil mudar seus rumos, tanto na sua
política econômica, que começa a dar sinais de esgotamento, como também nas
prioridades dos gastos públicos. Essa degradação gera uma legítima indignação
na sociedade e descrédito dos entes políticos e fez desencadear pelas ruas de nosso país manifestações populares polissêmicas, em virtude do alto grau do descontentamento da nação.
Diante desse cenário que se instalou e
que ganhou as ruas, é indubitável pensar que dentro de nosso processo
democrático, só o voto já não basta mais, ou seja, precisávamos fazer algo a mais. Isso está evidente, pois desde o
nosso processo de redemocratização continuou haver corrupção em nosso cenário político
e falta de representatividade. Já era hora de dar uma basta.
Quando vejo uma multidão sair às ruas e
reivindicar pacificamente mudanças e melhorias para nosso país, percebo que finalmente
chegou a nossa vez, de enquanto cidadãos fazer valer nosso direito democrático.
Nesse contexto quero destacar o filósofo inglês John Locke (1632-1704) que em
pleno século XVII, já dizia que as pessoas podiam e deveriam contestar um
governo injusto já que não eram obrigadas a aceitar suas decisões arbitrarias. Partindo
desse princípio temos, portanto, o direito e o dever de lutar por melhorias,
cobrar de nossos legisladores e exigir mudanças quando estes não governam em
prol da população.
Não existe mais nenhuma ideologia política por trás dos partidos. O que há são interesses. A fim de se garantirem e perpetuarem no poder fazem qualquer aliança política e se sujeitam à qualquer prática. Prova disso, é que as manifestações
políticas no Brasil desprezam a participação dos partidos políticos, uma vez
que estes estão diretamente envolvidos na maior parte dos escândalos que gera
manifestação pública.
Independente do rumo que a político no Brasil irá tomar daqui pra frente, nossa sociedade mais uma vez marcou história. Há que se pensar que saímos do estado de torpor que estávamos e que nossos legisladores já entenderam nosso recado. Quero acreditar que tais manifestações não são passageiras, pois só assim, nós, enquanto sociedade teremos uma maior participação nas decisões políticas do país. Além disso, espero que diante de tal conjuntura que se configurou, esse movimento tenha profunda repercussão nas eleições do próximo ano (2014).
Porém,
nunca é demais lembrar que as verdadeiras mudanças que a sociedade exige e o
país necessita só acontecerão com o fortalecimento do processo democrático. E
claro, sem violência e degradação do patrimônio público, pagos com o dinheiro
do contribuinte.
Da
mesma forma, qualquer manifestação não articulada apenas cria expectativas que
talvez estejam mais próximas da frustração do que da realidade. A união do povo
é essencial no processo de mudança do pensamento da sociedade e, consequentemente,
da história do nosso país.
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