Em
alguns países africanos independentes, os nativos tiveram de lutar contra a
opressão de regimes segregacionistas, como o da Rodésia e o da África do Sul. Entretanto, aqui vou me situar sobre a África do Sul.
A
África do Sul, país em recursos minerais, era habitada por povos negros, como
os bosquímanos, os xosas e os zulus, e por descendentes de holandeses e
ingleses (cerca de 15% da população). Essa minoria impôs à maioria negra uma
série de leis segregacionistas, em 1911. Diante disso, os negros liderados pelo
zulu Pixley Ka, fundaram, no ano seguinte, uma organização para lutar por seus
direitos, o Congresso Nacional Africano (CNA).
Bandeira da África do Sul, de 1910 à 1928
Em
1948, a minoria branca decidiu oficializar o apartheid (em africâner: separação): regime segregacionista
que obrigava os negros a morar em lugares separados dos brancos, a frequentar
escolas, praias e restaurantes só para negros e a andar constantemente com um
passe, de modo que a polícia pudesse controlar seu deslocamento. Eram também
proibidos de possuir terras em 87% do território nacional, apesar de serem
muito mais numerosos do que os brancos. Além disso, era terminantemente proibido as relações sexuais e o casamento entre brancos e não brancos (além dos negros, os indianos e os mestiços também eram atingidos pela Lei) e classificavam a população conforme a cor da pele.
Bandeira da África do Sul, de 1928 à 1994
Reagindo a essa situação, o CNA promoveu várias
manifestações contra o governo racista de seu país. Em uma delas, em 1964, o
governo prendeu oito líderes do CNA, entre eles Nelson Mandela, que foi
condenado à prisão perpétua. Nas décadas seguintes, as lutas raciais se intensificaram.
O sistema segregacionista sul-africano, instituído
nos anos 1950, forçava os negros a pagar para frequentar escolas com classes
superlotadas e professores sem qualificação adequada, ou mesmo inferior,
enquanto a educação para os brancos era gratuita.
Nelson Mandela
Em 1975, o governo decretou a obrigatoriedade do
ensino no idioma africâner, antes em inglês, para as matérias acadêmicas nas
escolas secundárias negras. Para os estudantes negros a medida era uma ponte
para o fracasso: para ter sucesso precisava ser fluente nos idiomas oficiais do
país - inglês e africâner.
Em junho de 1976, milhares de estudantes negros
foram às ruas de Soweto (subúrbio negro em Joanesburgo), em protesto contra a
imposição da língua africâner* nas escolas entre outras melhorias no sistema de
ensino. A polícia atirou contra as crianças e os jovens que marcharam vestidos
com uniformes escolares. 170 crianças foram mortas no episódio, que ficou
conhecido como Massacre de Soweto.
O fato chocou a opinião pública mundial: alguns
países passaram a boicotar economicamente a África do Sul, e a ONU determinou a
proibição da venda de armas ao país.
Apesar da pressão externa e interna, o governo
sul-africano só anulou a maioria das leis do apartheid em 1990. Nelson Mandela
foi libertado da prisão depois de nuita mobilização interna e forte pressão internacional, e o CNA recuperou a legalidade. A Constituição foi
alterada e os negros passaram a ter os mesmos direitos civis e políticos dos
brancos.
Em 1994, ocorreram as primeiras eleições com a
participação dos negros na África do Sul. Mandela foi eleito presidente da
República e, com o apoio da maioria no Parlamento, conseguiu aprovar a Lei de
Direitos sobre a Terra, que restituiu às famílias negras as terras que lhes
haviam sido usurpadas havia décadas.
É de extrema relevância destacar que além de Nelson Mandela, outras pessoas também se destacaram na luta contra o apartheid, como Steve Biko, Desmond Tutu e Oliver Tambo.
Bandeira atual:
É de extrema relevância destacar que além de Nelson Mandela, outras pessoas também se destacaram na luta contra o apartheid, como Steve Biko, Desmond Tutu e Oliver Tambo.
Bandeira atual:
Bandeira atual da África do Sul
A bandeira
nacional da República da África do Sul foi adotada em 26 de
abril de 1994. A bandeira foi concebida pelo Armeiro de Estado, F.
Brownell. Uma tentativa anterior de criar uma nova bandeira, pedindo sugestões
ao público, não se revelou bem sucedida.
Apesar da sua novidade, a
bandeira revelou-se um excelente símbolo nacional, mesmo entre os sul-africanos
de pele branca, cuja bandeira veio substituir, e pode ser hoje vista com
regularidade em eventos desportivos e afins.
As melhores formas de
descrever a bandeira é como duas bandas horizontais de vermelho (topo)
e azul, separadas por uma banda central [verde] que tem a forma de
um Y horizontal, cujos braços terminam nos cantos do lado da tralha.
O Y delimita um triângulo isósceles preto, separado dele por
listras amarelas estreitas. As bandas vermelha e azul estão separadas
da área verde por listras brancas estreitas.
As cores da bandeira tem
cada uma seu significado. O vermelho significa o sangue do povo, o azul
representa o céu, as cores preto e branco significam as raças negra e branca, o
verde representa as florestas e o amarelo é ouro. A África do Sul é
um dos maiores produtores do metal precioso no mundo. A forma de "Y" da bandeira se
destaca por expressar um importante significado simbólico. É a representação de
traços opostos que ao se cruzarem seguem o mesmo caminho. Dentro do contexto de
derrubada do apartheid o símbolo traz a ideia de que brancos e negros, antes
separados e distintos, se unem para caminhar juntos.
África do Sul hoje:
O fim do APARTHEID e a eleição de um negro à presidência
não encerraram a longa história de violência racial no país. Extremistas
brancos e negros continuam a agir, e a conjuntura sul-africana prosseguiu
instável.
Mandela governou
até 1999 e foi sucedido por Thabo Mbeki. A África do Sul é hoje um Estado de
direito que respeita os órgãos internacionais. É também uma democracia e não há
mais leis racistas.
Mas o longo
período do apartheid deixou marcas
que são difíceis de apagar. Os negros, excluídos das escolas por muito tempo ou
segregados em escolas de nível muito baixo, têm pouca escolaridade e geralmente
exercem atividades profissionais mal remuneradas. Ou seja, a divisão racial do
passado pode ter acabado, mas deixou como saldo uma profunda diferença social
entre brancos e negros.
As grandes
cidades do país estão entre as mais violentas do mundo, tomadas por gigantescas
favelas e por uma desigualdade social entre os muito ricos e os muito pobres
que se parece com a desigualdade dominante no Brasil.
Se a África do Sul e todo o continente africano vive em meio ao mais profundo abandono, isso se deve à prática imperialista* cometida pelos países europeus em meados do século XIX. Estes se preocuparam em buscar a aprovação interna e o apoio popular para levar adiante a ocupação e as intervenções nos países dominados. Nessa época, ideologias etnocêntricas se reafirmaram, glorificando a origem e a cultura europeia e menosprezando a cultura de outros povos.
Assista ao documentário a seguir:
Glossário:
Livros:
*Africâner: Língua falada na África do Sul e Namíbia, resultado da mistura de línguas trazidas por colonizadores europeus, principalmente o holandês e o alemão, mas também o inglês e o francês, com a língua de trabalhadores malaios e de várias tribos africanas.
*Imperialismo: O imperialismo se baseia, essencialmente, na dominação de uma nação sobre outra, tanto formal como informalmente, direta ou indiretamente, movida, principalmente por interesses políticos e econômicos. Para justificar essa dominação, o uso de ideologias é muito frequente.
Livros:
LOPES, Marta Maria Lopes. O apartheid. São Paulo: Atual, 1990.
MAGNOLI, Demétrio. África do Sul: capitalismo e apartheid. São Paulo: Contexto, 2004.
Filmes:
Um Grito de Liberdade (1987);
Bopha, à flor da pele (1993);
Distrito 9 (2009);
Invictus (2009);
Borboletas Negras (2011).
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