"O passado é o que está acontecendo agora". Essa frase, na voz de Selton Mello no filme Uma História de Amor e Fúria é emblemática nesta década de acaloradas discussões sobre novas estruturas sociais, os rumos conturbados da economia e as mudanças climáticas.
A animação roteirizada e dirigida por Luiz
Bolognesi (Bicho de Sete Cabeças) relembra que, ao longo da história
do Brasil, muitos erros se repetiram e passaram quase que invariavelmente pelos
mesmos motivos: luta de classes, opressão, disputa inconsequente por poderio
econômico e displicência diante do uso de recursos naturais. No filme, esse fio
condutor demasiadamente humano interliga o período da colonização, a origem do
cangaço do nordeste brasileiro, os Anos de Chumbo e o futuro, mais
precisamente o ano de 2096. Parece haver uma lacuna proposital aí: a
década de 90 e os primeiros anos 2000 ficaram de fora do enredo justamente para
que o expectador se coloque por um momento no lugar do herói furioso e
apaixonado do longa-metragem e, com isso, pense um pouco sobre a atualidade e
seu próprio papel como cidadão. Isso faz mais sentido ainda se observarmos
que, em cada fase do filme, o protagonista imortal se torna um revolucionário e
assume a função de defensor de minorias. Ele atua como agente da mudança,
exceto no período do final do século XXI, momento em que desiste de lutar e se
torna indiferente às mazelas daquele período. Os problemas do futuro
pressagiados pela animação parecem um tanto prováveis: milícias particulares
que detém o monopólio da segurança, a falta de água como o mote de uma guerra
civil, apatia política e alicerces sociais baseados em consumismo. Qualquer
semelhança com fatos reais do ano de 2013 não será mera coincidência graças à
participação de antropólogos e historiadores consultados por Bolognesi para o
desenvolvimento da obra.
Revolução Sustentável – A reflexão suscitada pela saga, que atravessa os tempos por meio de fatos extremos sobre escravidão, totalitarismo e violência urbana, tenta nos empurrar ao desejo de fazer alguma coisa para evitar a escassez de recursos naturais, para promover a justiça social e para construir um sistema econômico equilibrado.
Hoje em dia não é difícil imaginar que a
sustentabilidade se apresenta como a revolução contemporânea necessária, que
pode e precisa ser entendida muito além de uma bandeira verde tremulada como a
solução de todos os males atuais.
A complexidade da problemática atual exige
que ações sustentáveis sejam realmente abrangentes e alcancem toda a magnitude
do seu conceito. Hoje, ao invés de pegar em armas, a sustentabilidade pode ser
a ferramenta da mudança. Educação, engajamento e conhecimento compartilhado são
fundamentais para esse novo tipo de luta.
Não será um único herói ou ideia a mudar a história, mas sim uma série de mudanças em cadeia em todas as camadas da sociedade. A máxima do “cada um fazer a sua parte” é determinante na soma de esforços para que isso aconteça – do indivíduo às instituições ou mesmo do poder público ao setor privado. O ponto chave é saber observar o que realmente é ou o que poderia ser feito hoje para que o desenvolvimento sustentável seja uma realidade que assegure um futuro equilibrado nos fatores econômicos e socioambientais. Mais do que observar, é preciso agir, seja pelo amor ao próximo ou mesmo pela fúria de não aceitar passivamente a imposição de uma realidade supostamente imutável. O convite de Luiz Bolognesi com seu filme – que durou cerca de seis anos e 25 mil desenhos para ser feito – mostra que podemos usar a história de uma forma menos contemplativa ou, ao menos, viver o presente sem indiferença pelo todo. Se o futuro é o que está acontecendo hoje, já temos uma ideia do que virá nas próximas décadas se não nos tornarmos protagonistas das mudanças imortais que tanto desejamos.
Veja o trailer:
Para assistir ao filme acesse:
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