Carolina Maria de Jesus em meio aos barracos da favela Canindé,
nas cercanias do recém-construído estádio, em 1958.
Para uma escritora que viveu
rotulada como “mulher, negra e favelada”, mãe solteira sem muita escolaridade,
que tinha nos lixões do entorno da favela do Canindé, em São Paulo, onde
morava, os meios de sustentar a família e a base de sua produção literária (ela
levava para o barraco livros e cadernos que encontrava no lixo), pode-se dizer
que Carolina Maria de Jesus (1914-1977) teve uma trajetória excepcional. Sua
vida de escritora, apesar das muitas contradições do seu temperamento, fez dela
um fenômeno editorial e midiático, algo contrastante com sua atividade de
catadora de papel das ruas de São Paulo. Incomodada por ser vista por todos
como “mendiga e suja”, dizia que, embora andasse suja, não era mendiga:
“Mendigos pedem dinheiro; eu peço livros”.
Carolina Maria de Jesus nasceu a
14 de Março de 1914 em Sacramento -MG, cidade onde viveu sua infância e
adolescência. Seus pais, provavelmente, migraram do Desemboque para Sacramento
quando houve mudança da economia da extração de ouro para as atividades
agropecuárias.
Quanto a sua escolaridade em
Sacramento, estudou em um colégio espírita, que tinha um trabalho voltado às
crianças pobres da cidade, através da ajuda de pessoas influentes. Carolina
estudou pouco mais de dois anos. Toda sua educação formal na leitura e escrita
é com base neste pouco tempo de estudos.
Mesmo diante todas as mazelas,
perdas e discriminações que sofreu em Sacramento, por ser negra e pobre,
Carolina revelou através de sua escritura a importância do testemunho, como
meio de denúncia, da desigualdade social e do preconceito racial.
Desde que apareceu para o mundo
das letras com seu livro “Quarto de despejo”, no início da década de 1960
(precedido das reveladoras reportagens do jornalista Audálio Dantas), Carolina
Maria de Jesus vem sendo alvo de diversos estudos no Brasil e no exterior.
Esses estudos giram em torno da sua turbulenta vida de favelada e da sua
extensa obra, que engloba autobiografia, memorialismo, poesias, contos,
provérbios e romances. Publicou ainda “Casa de alvenaria”, “Journal de Bitita“
(póstumo, 1982, França) e “Meu estranho diário” (também póstumo, 1996,
organizado por José Carlos Sebe Bom Meihy e Robert M. Levine), o que nos dá uma
ideia dos muitos inéditos deixados pela escritora, traduzida para dezenas de
idiomas, como o romeno, russo, japonês, inglês, sueco e alemão.
No vídeo produzido pela equipe de
Pesquisa Fapesp, a historiadora Elena Pajaro Peres fala sobre aspectos da vida
e obra da escritora, ressaltando a importância de verificar aspectos que vão
além dos livros e do período em que a autora viveu em São Paulo. Veja como seu
trabalho continua a instigar pesquisas.
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