23 de ago. de 2013 | By: Fabrício

“O Emprego”, o curta animado que desenha o que muita gente não entende…


Todo dia é a mesma coisa. Acordamos bem cedo, tomamos um café, nos aprontamos e vamos para nossos trabalhos. Cada um tem uma função, cada qual tenta se encaixar como pode neste mundo maluco. No curta El Empleo (O Emprego), a história não é muito diferente, exceto que os empregos são um bocado incomuns.

El Empleo é um curta produzido em 2008, dirigido por Santiago Grasso e escrito por Patricio Gabriel Plaza. A animação ganhou nada menos que 102 prêmios. Este curta argentino vai deixar você intrigado, afinal, ele vem para debater diversas questões sobre a sociedade, as tecnologias, a qualidade de vida e dos trabalhos, das relações que temos uns com os outros e diversos outros assuntos com os quais não nos preocupamos.


Santiago Grasso (autor da animação) é desenhista, ilustrador e animador, formado pela Faculdade de Bellas Artes da Universidade Nacional de La Plata. Possui diversos curtas, dos quais se destaca "El Empleo", um curta de animação argentina de 2008, premiado em diversos festivais. A animação mostra a rotina melancólica, ligada a um mundo desconexo, de um homem, que percorre seu caminho usual até o trabalho, na qual usar as pessoas como objetos faz parte do cotidiano. 

Nesta animação, que retrata um mundo bizarro, onde tudo é substituído por pessoas, vemos que os personagens parecem lidar com grande naturalidade toda aquela estranheza do cotidiano. No início, e durante o curta, o que vemos é uma animação surreal, onde todos os objetos de um mundo real – desde a mobília da casa, o semáforo do trânsito até ao mecanismo que movimenta o elevador de um prédio – são substituídos por pessoas. Porém, é no final do curta que entendemos toda a melancolia daquele homem, que percorre seu caminho até o trabalho para ter o mesmo fim que o dos outros personagens: de ser um objeto. No seu caso, de ser um tapete na entrada de um escritório de um burguês. 

Coisificados, massificados e  precificados conforme seu desempenho corporativo, a realidade  dos  trabalhadores em  inúmeras empresas ao redor do mundo reflete  condições de trabalho rígidas, desumanizadas e desrespeitosas, que levam vários indivíduos a adoecer e  a  ter  problemas psicológicos que não são nada menos que a somatização da vida massacrante do homem contemporâneo encarcerado nas modernas senzalas de um sistema econômico que está tornando a humanidade cada vez mais materialista.

O final perturbador dessa animação mostra seu impacto e sua genialidade para transmitir uma crítica à sociedade contemporânea e ao sistema capitalista.

A partir destas críticas, podemos fazer um diálogo com uma categoria marxista: a “coisificação” do homem; a transformação do homem em simples objeto. Karl Marx aponta a reificação do homem como um dos males mais nocivo originado do capitalismo. 

Por fim, a crítica à sociedade contemporânea sintetiza a forma que as relações sociais estão deterioradas. É evidente o processo de desumanização das pessoas como algo natural, no qual o valor das pessoas é medido pelo que elas têm ou pelo que produzem e não pelo que são. 

Bom, assistam e tirem suas próprias conclusões.



Referências:
  • EL EMPLEO. Santiago Grasso. Argentina: Opusbou, 2008. 
  • MARX, Karl. O Capital. Coleção Os economistas. São Paulo: Nova Cultural, 1988.

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